Arte e Medicina

Pátroclo curado por Aquiles (Sosías, 500 a.C.)

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Esta cena pertence à decoração interior de uma cópia de terracota ateniense (chamada kilix), de 10 cm de altura e 32 cm de diâmetro, encontrada em 1828, em Vulci (Etrúria). Teria sido pintado no ano 500 a.C., provavelmente por Sosías. Pertence ao estilo arcaico tardio de figuras vermelhas e retrata o herói Aquiles enfaixando o braço de seu amigo, também guerreiro, Pátroclo, que vira a cabeça para o lado para evitar que seu amado amigo perceba sua dor estremecedora. Hoje, é mantido em um museu em Berlim (Kunsthistorisches Museum).

Fundo da taça, onde se vê a cena de Aquiles curando Pátroclo

Considerada uma das mais antigas imagens conhecidas com esse tema, é uma referência a um episódio da Ilíada, narrado por Homero, em que se conta como Aquiles curou a ferida de seu primo e amigo íntimo Pátroclo.

Nesta obra do poeta Homero, são descritos cerca de uma centena de lesões diferentes, incluindo lesões na cabeça, pescoço, tórax e bexiga, como seria de esperar no tipo de batalhas que ocorreram na época, bem como fraturas da coluna vertebral e do fêmur. Ele usa mais de 150 termos anatômicos, descreve métodos de tratamento cirúrgico e sugere alguns fenômenos fisiológicos. O próprio Aquiles transmite seus conhecimentos, adquiridos do centauro Quíron, para transmiti-los a Pátroclo.

O tratamento poderia consistir na retirada imediata da flecha, lavagem com água, aplicação de ervas calmantes que protegessem contra infecções e cicatrizassem rapidamente a ferida, e o posterior e necessário curativo para cobri-la. Normalmente, esses tratamentos eram realizados por aqueles guerreiros que possuíam conhecimentos rudimentares de medicina, já que, nas unidades militares, não havia figura totalmente dedicada a essa tarefa.

Esta cena nele pintada se destaca por um dramatismo à frente do seu tempo. Pátroclo, como se tivesse sido ferido no antebraço esquerdo, repousa sobre o escudo com a perna esquerda estendida e o pé apoiado na borda do tondo. O cotovelo do braço ferido está apoiado na coxa esquerda. Enquanto Pátroclo segura sua bandagem na mão, Aquiles, que está agachado ao lado dele, envolve uma bandagem branca em torno de sua ferida.

O herói usa um quíton curto, uma couraça, um capacete com crista e sandálias. Ele levantou as placas laterais do capacete para melhor servir seu amigo. Pátrocolo ostenta barba e bigode fino. Ele também usa uma túnica curta e couraça, e removeu o capacete para revelar um boné fofo que protege o alto da cabeça. A aljava está pendurada em seu ombro esquerdo e uma flecha, talvez a que o feriu, repousa à esquerda ao longo da borda do tondo.

O grande tamanho dos olhos proporciona dramaticidade, expressando as emoções dos protagonistas no momento que estão vivendo. Enquanto Pátroclo desvia o olhar, Aquiles sorri e direciona sua atenção para a ferida, talvez olhando de soslaio para o sexo de seu amigo, revelando, assim, o relacionamento deles. Nenhum deles apresenta uma posição frontal, como era comum nos vasos da época, mas sim de perfil, o que seria típico de períodos posteriores.

Prof. Dr. Alfredo E. Buzzi

Professor Titular de Diagnóstico por Imagem, Universidade de Buenos Aires Membro Honorário Internacional da Sociedade Paulista de Radiologia.

O autor é editor da Revista “ALMA – Cultura y Medicina” (http://www.almarevista.com)