Arte e Medicina

Uma lição de Claude Bernard (Léon Lhermitte, 1889)

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Uma lição de Claude Bernard (Léon Lhermitte, 1889)

Claude Bernard (1813-1878) foi um biólogo teórico e fisiologista francês, fundador da medicina experimental.

Em 1853, obteve o doutorado em ciências naturais e ingressou na Academia de Ciências. Em 1854, conquistou a Cátedra de Fisiologia Geral da Faculdade de Ciências de Paris e, no ano seguinte, sucedeu seu mestre François Magendie no Collège de France, uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas da França, fundada em 1530. Em 1860, já havia escrito o essencial de sua obra.

Entre as contribuições de Bernard para a ciência, destacam-se a descoberta da função digestiva do pâncreas, da função glicogênica do fígado, do mecanismo de ação do curare, do monóxido de carbono e dos anestésicos, o estabelecimento dos princípios gerais da farmacodinâmica moderna e as funções do sistema nervoso. Outros aportes incluem seus estudos sobre a secreção salivar, a fisiologia pulmonar, o efeito da nicotina sobre o organismo, a coagulabilidade do sangue, o tônus muscular e os mecanismos inflamatórios. Ele também estudou a asfixia e os fermentos, que lhe renderam uma histórica polêmica com Pasteur.

Bernard introduziu o conceito de “constância do meio interior” por volta de 1860, que mais tarde foi chamado de “homeostase” pelo fisiologista norte-americano Walter B. Cannon.

Entre suas contribuições à terapêutica, destacam-se o tratamento da diabetes, as indicações de sangria, o tratamento da intoxicação por monóxido de carbono mediante ventilação mecânica, o tratamento da anemia com lactato de ferro, a redução da temperatura corporal por meios físicos, o estudo dos mecanismos de antagonismo entre fármacos, o tratamento da intoxicação etílica, as aplicações da morfina, os efeitos do dióxido de carbono, a administração intravenosa de soro fisiológico, as técnicas de reanimação cardiopulmonar e a oxigenoterapia.

Bernard também fez importantes contribuições no campo da cirurgia, pois, além de seus trabalhos sobre anestesia, projetou novos instrumentos cirúrgicos, propôs novas técnicas de incisão e sutura e descreveu a hiperglicemia pós-hemorrágica.

Em 1865, ele publicou sua obra mais famosa, “Introdução ao Estudo da Medicina Experimental”, onde reflete sobre o método que ele próprio havia empregado para alcançar suas descobertas científicas. Segundo Bernard, a prática experimental se desenvolve em etapas. Em primeiro lugar, ocorre aos olhos do cientista um fato que ele constata de forma precisa. Em seguida, surge uma ideia sobre a possível causa desse fenômeno. Essa ideia constitui a hipótese científica, que somente terá valor na medida em que puder ser testada experimentalmente. Para isso, o cientista deduz dessa hipótese outras que são suas consequências lógicas e passa a desenhar experimentos ou a buscar observações que as confirmem. As teorias científicas não são, na verdade, mais do que hipóteses controladas experimentalmente, através de um processo que estabelece um delicado equilíbrio entre a razão e a experiência. Daí o seu caráter necessariamente provisório e as difíceis escolhas que o cientista frequentemente deve fazer entre os fatos e as teorias quando há discordância entre ambos. Mesmo quando os fatos parecem confirmar a hipótese, esta deve ser submetida à contraprova. A contraprova é a ferramenta lógica que garante ao cientista a existência de um verdadeiro nexo causal entre dois fenômenos, e não de uma mera coincidência temporal.

Em 1868, ele ingressou na Academia Francesa. Nesse mesmo ano, renunciou à sua cátedra na Sorbonne e foi nomeado catedrático de fisiologia no Museu Nacional de História Natural da França.

Onze anos após a sua morte, o pintor francês Léon Lhermitte pintou o quadro “Uma lição de Claude Bernard”, onde o famoso cientista aparece dando uma aula de prática experimental a seus alunos (muitos deles futuros pesquisadores famosos), no Collège de France. O título alternativo que o pintor deu ao quadro é “Sessão no Laboratório de Vivissecção”. Bernard, assim como seu mestre Magendie, frequentemente realizava experimentos em animais vivos. Isso acabou provocando o divórcio de sua esposa, que fundou junto com suas duas filhas um asilo para cães e gatos como forma de expressar sua oposição à experimentação com animais.

 

Prof. Dr. Alfredo E. Buzzi

Profesor Titular de Diagnóstico por Imágenes, Universidad de Buenos Aires
Miembro Honorario Internacional de la Sociedad Paulista de Radiología

El autor es editor de la Revista “ALMA- Cultura y medicina”