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Metaverso

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O Metaverso é, sem dúvidas, um tema em alta no momento! Muito temos visto e ouvido sobre seu funcionamento, potencial e avanços; porém, primeiro devemos esclarecer do que de fato se trata o metaverso e assim aprofundar sobre suas implicações na área da saúde e especificamente na radiologia.

Apesar do nome metaverso significar um espaço e parecer ser único, ainda não temos uma definição exata de como ele será no futuro, tendo em vista que, por ser uma representação virtual do mundo real, ele é fragmentado pelo motivo de muitas empresas e organizações criaram seu espaço virtual e chamaram de metaverso. Além disso, atualmente esses espaços estão desconectados entre si e ainda não é possível, pelo menos, que seu conteúdo possa ser exportado e importado por outros espaços. Isso faz com que seu uso seja ainda limitado e seu potencial de expansão desacreditado. Muitos acreditam que, para entrar nestes espaços, seja necessário hardwares exclusivos, como é o caso dos óculos VR (realidade virtual/aumentada), e acabam desistindo de ter a experiência inicial nestes espaços, mas nada disso é necessário: apenas com o uso do seu smartfone ou seu PC em casa (sim, pode ser aquele seu antigo mesmo) já é possível ter uma boa experiência. Essa capacidade de imersão e interação tem atraído tantos olhares para o metaverso, criando assim várias ideias de aplicabilidade na área da saúde.

Pensando nessas aplicações, temos que a convergência de algumas tecnologias do metaverso nos fornecem o arsenal necessário para as magníficas transformações em nossa área, a da saúde. Tais tecnologias são a capacidade de criar um “gêmeo digital”, o uso das Blockchains e o fator Telepresença.

Gêmeo digital é basicamente um modelo virtual de uma pessoa, ou até mesmo um objeto ou um processo específico; por exemplo, você pode criar seu personagem no metaverso com suas características genéticas conhecidas, limitações físicas e até doenças crônicas existentes. Assim, testes de envelhecimento, interações medicamentosas e personalizações de exercícios físicos podem ser aplicados sem que de fato isso ocorra com seu corpo físico real. Validar esse teste virtual em seu “gêmeo digital” permitirá aplicá-lo no mundo real e começar a “prever” ou, pelo menos, ter menos surpresas de seu futuro. Processos e modelos também podem ter seu gêmeo digital no metaverso, e aí começamos a ver mais aplicações na área da radiologia; um exemplo é a criação de modelos 3D segmentados a partir de exames de imagem de um paciente, criando um potencial de estudo deste modelo em salas virtuais e interação entre as especialidades. Com isso, um melhor planejamento do tratamento deste paciente e redução de erros.

Com o uso da tecnologia Blockchain, que é aquela mesma que sustenta as criptomoedas tão populares, o uso de dados e criptografia das informações dentro do metaverso será bem mais confiável. Outro fato também interessante é o uso das blockchains para criação de comunidades descentralizadas e registro de propriedades digitais, como, por exemplo, o registro de prontuários eletrônicos e laudos radiológicos protegidos por um token e com mínimos riscos de serem roubados, como ocorre nas atuais formas centralizadas. Utilizando este recurso, o paciente apenas com um clique pode dar a permissão de seus relatórios ao médico solicitante em cerca de segundos, com muito mais segurança que das formas tradicionais.

 

Imagem obtida através da IA Dall-E, utilizando as palavras-chave: metaverse, radiology, reporting

 

Já muito conhecido em nosso meio e popularizado durante a pandemia como telemedicina, a Telepresença no metaverso pode apresentar as principais vantagens. Imagine você poder estar sentado ao lado daquele especialista que sempre teve como referência, mas que mora do outro lado do mundo, sem ter que se deslocar até lá e não precisar revirar a vida para encaixar os horários disponíveis… Com esse recurso do metaverso, essa situação pode ocorrer em segundos após o planejamento, e para isso basta estar com seu smartphone na mão, ou um óculos VR e dispositivos sensoriais para uma experiência mais aprimorada. A partir deste exemplo podemos desmembrar inúmeras outras possibilidades, como abrir um exame de imagem feito uma projeção bem à sua frente e discutir com o colega ao lados as alterações, convergindo com a tecnologia de governança das blockchains para não permitir outros de verem esse exame e/ou ouvirem o que está sendo discutido entre vocês. Pode-se também aproximar-se no momento da conclusão do médico solicitante ou até mesmo do paciente para melhor esclarecimento.

Sobre o paciente, as novidades também são vantajosas. A redução da ansiedade do paciente antes de procedimentos ou laudos médicos com diagnósticos sensíveis pode ser minimizada ao se criar um ambiente imersivo, onde médicos e equipes multidisciplinares podem se reunir para explicar e tirar eventuais dúvidas quanto ao procedimento ou diagnóstico deste paciente em questão. Outro uso também cabe à radiologia intervencionista, em que a orientação do paciente em relação ao preparo e procedimento pode ser feito utilizando como exemplo o uso de simulações virtuais em seu gêmeo digital.

O futuro

Muitos obstáculos ainda precisam ser superados para que os demais recursos possam, de fato, serem implementados. Inicialmente, acredito eu, que a união dos metaversos ou a criação de um ambiente único e interoperável entre si seja o primeiro passo necessário – como aconteceu com a WWW (Word Wide Web) e o advento do TCP/IP na década de 1990, criando assim, a internet como conhecemos hoje.

Outra questão também é o fato da tecnologia, principalmente em um país heterogêneo como o nosso, ainda ser um fator limitante. A necessidade de uma internet com conexão rápida e um simples smartphone exclui uma boa parcela de nossa população do acesso a essa ferramenta tão inovadora na saúde, aumentando assim a distância social do acesso ao tratamento de excelência. Talvez o tempo de uso e consolidação da tecnologia, reduzindo os custos com inúmeros exames repetidos e retornos médicos desnecessários, possa incluir as ferramentas necessárias para o acesso ao metaverso disponível para todos.

Thiago Augusto Massarutto

Médico pela PUC de Campinas, Residência Médica de Radiologia pela UMDI Mogi das Cruzes e atualmente Fellow em Inteligência Artificial, Inovação e Gestão em Radiologia pela UNIFESP