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A Radiologia real e a IA

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Esse artigo foi publicado no Jornal da Imagem em 2019, com a intenção de seguir as publicações feitas pelo RSNA na Radiology. Vejam como as expectativas da IA mudaram nesses quatro anos e agora ameaçam nossos laudos, restando para nós o posicionamento dos pacientes nas ressonâncias e nas TCs, já que o laudo será dado pela IA.

A lei do ato médico poderia proteger o nosso laudo? Tenho dúvidas…

Vejamos o que escrevi na época:

“Neste ano, o RSNA lançou uma revista devotada à inteligência artificial, com a finalidade de publicar artigos de alto valor científico e os avanços na área que possam nos ajudar a entender a matéria.

O termo IA existe desde 1956, quando foi criado para significar os esforços para processar e entender qualidades humanas de resolver problemas de linguagem escrita ou falada, bem como processar informações visuais como nos jogos de xadrez e pôquer. O que há de novidade é o uso da IA para reconhecer padrões de imagens no uso do machine learning.

Se esse sistema é capaz de reconhecer gatos na internet, estaria pronto para reconhecer nossas imagens de diagnósticos por imagem? É o caminho que estão pretendendo dentro de um futuro próximo. Qualquer um pode pensar em construir um sistema de IA, mas isso não significa que esse sistema fará aquilo que você imaginou. Citando Shakespeare: “I can call spirits from the vasty deeep. But will they come when you do call for them?”.

Os princípios éticos devem estar presentes em todas as pesquisas de IA, de tal sorte que não venham prejudicar os participantes das pesquisas nos outputs que foram gerados a partir dos inputs. No machine learning, o aprendizado que informamos à máquina ensina a ela a fazer as tarefas que seriam executadas por nós. Quando se trata de tecnologia mais sofisticada, que pode mudar a forma como gerenciamos nossas vidas diárias e negócios, fica claro que a IA tem poder de fazer isso por nós. A tecnologia já resolveu muitos desafios em diferentes setores, como logística, transporte, manufatura e agricultura, e agora a saúde é uma das maiores indústrias em crescimento a adotar a IA.

Hoje, estamos testemunhando como essa tecnologia está agregando valor a esse setor. Do desenvolvimento de medicamentos à pesquisa clínica e do diagnóstico inteligente, ao tratamento terapêutico, a aplicação da IA na assistência médica está transformando todos os aspectos da área e trazendo melhores resultados para os pacientes. Além disso, permite melhor acesso e eficácia para os profissionais.

Atualmente, quase todas as organizações estão cientes dos benefícios da adoção da tecnologia da IA para oferecer melhores cuidados de saúde aos pacientes. Muitos provedores de serviços de saúde estão buscando cada vez mais a ajuda de especialistas em tecnologia para simplificar seus processos complexos e agregar valor a eles. O Instituto Finlandês de Medicina Molecular “AIFORIA” (marca registrada) é uma dessas empresas que visam melhorar, simplificar e aprimorar o processo diagnóstico. É composta por médicos, empreendedores experts em ciências da vida, e desenvolvedores de softwares de deep learning.

A IA revolucionará a saúde com a análise das imagens médicas. Através disso, em rede neural, é possível automatizar tarefas de detecções e quantificações quase impossíveis ao olho humano. Com a análise assistida por IA, podem-se alcançar novos níveis de informações e dados que ficaram “escondidos” nas amostras anteriores. As revelações de todas essas informações permitirão que pesquisadores e profissionais da área médica iniciem novas perguntas, façam novas descobertas a partir de imagens, e avancem em direção a uma ciência mais objetiva. 2019 poderá ser o ano em que a IA trará grandes benefícios à humanidade.”

Agora já é 2023. Leiam na página 29 do Ser Médico, do Cremesp desse mês de maio, escrito pelo professor de medicina legal e bioética da USP de Ribeirão Preto, Dr. Marcos Guimarães. Suas considerações sobre o IA na nossa especialidade e na histopatologia:  “As especialidades diagnósticas, como Imagenologia e Histopatologia, poderão ser absorvidas pelas IAs em breve. Potencialmente, será mais importante para o sistema o radiologista posicionar corretamente um paciente em um equipamento de RM ou CT do que ter um médico para analisar os resultados desses exames”.

Dr. Celso Hiram de Araújo Freitas

Dr. Celso Hiram de Araújo Freitas é radiologista e ex-presidente da Sociedade Paulista de Radiologia.