Túnel do Tempo

Março de 1994 e a luta persistente pela Defesa Profissional

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Desde 1993, o Jornal da Imagem voltava recorrentemente ao mesmo tema: a perda de mercado de trabalho para outras especialidades médicas e a acusação de ficar com a maior parte das verbas da Assistência Médica. Representantes de entidades de classe expressaram sua insatisfação, adotando a postura de “pau nas máquinas”. Argumentavam que não era justo que médicos com diferentes custos operacionais cobrassem o mesmo valor por seus serviços, destacando a discrepância entre aqueles que usavam aparelhos portáteis e os que mantinham equipamentos mais caros.

O periódico instigava os colegas a se manifestarem contra essa situação há muito tempo. Era apontado que os radiologistas estavam sendo culpados pelo alto gasto com diagnóstico por imagem, sem considerar o montante produzido por exames autogerados, que, nos Estados Unidos, era quatro vezes maior. Alertava-se para a iminência de mais dificuldades se não houvesse uma reação.

A preocupação crescia com a possível exclusão do custo operacional da Tabela da AMB, o que prejudicaria os radiologistas que possuíam aparelhos fixos, ao contrário daqueles que utilizavam alternativas portáteis ou transportáveis. Além disso, as medicinas de grupo estavam mais interessadas em controlar as faltas no emprego do que na qualidade do atendimento médico, o que colocava os profissionais em uma posição difícil.

Nesse sentido, era proposta uma “guerra santa” pela valorização do Título de Especialista concedido pelo CBR, como forma de diferenciar a qualidade do serviço prestado. O INPS, ao credenciar apenas médicos com título, conseguia controlar a autogeração de exames.

Era destacado que isso afetava significativamente a renda dos médicos, enquanto aqueles que manipulavam a tabela se beneficiavam. A mensagem final era para que os profissionais não tivessem vergonha de admitir que estavam perdendo dinheiro devido à manipulação da tabela, indicando que não eram eles os principais beneficiários desse sistema.

 

Desafios sociais que passam para a saúde pública

Nesta edição, a Dra. Heloisa de Andrade compartilhou uma experiência pessoal que teve enquanto estava dirigindo em São Paulo. Ela foi assaltada durante um semáforo vermelho, o que a levou a refletir sobre a situação social do país e a sensação de impotência diante de certos eventos. Apesar da discussão civilizada com o assaltante, ela se viu abalada pelo incidente.

Ela relacionou essa experiência ao contexto da área da saúde, destacando os desafios enfrentados na busca por uma medicina de qualidade para todos, especialmente nos serviços públicos. A falta de recursos financeiros, tanto dos pacientes, quanto das instituições, e a dificuldade de determinar quem deve ter prioridade no tratamento eram questões angustiantes enfrentadas diariamente.

A radiologista observou que os serviços de radioterapia também passavam por essa crise, com pacientes em alguns lugares esperando até quatro meses para iniciar o tratamento. Diante dessa situação, ela se questionou sobre o que poderia ser feito para melhorar a situação. Ela enfatizou a importância de aproveitar ao máximo os recursos humanos e materiais disponíveis para elevar a qualidade dos tratamentos, promovendo formação adequada do pessoal e um bom controle de qualidade em todas as etapas do processo.

Como representante da radioterapia na Sociedade Paulista de Radiologia, ela convidou todos os profissionais para participarem da JPR de 1994, destacando a importância de fortalecer a especialidade e promover o intercâmbio de informações. Ela enfatizou a necessidade de mostrar resultados, mesmo que pouco gratificantes, para justificar o real valor e a necessidade do tratamento, e, assim, conseguir mais recursos para a área de atuação.

Por fim, expressou um desejo pessoal, mencionando que, quando a radioterapia começasse a dar lucro, ela pretendia comprar um carro com ar condicionado para não precisar mais andar com a janela aberta.

 

Necessidade de planejamento estratégico para aquisição de novos equipamentos

A evolução constante da tecnologia na área da Radiologia foi discutida, abrangendo tanto o diagnóstico por imagem, quanto a terapêutica de radiações. Essa evolução era evidente nos equipamentos radiológicos, que passavam por aperfeiçoamentos frequentes, muitas vezes tornando obsoletos aparelhos que eram considerados a última palavra em suas áreas específicas apenas alguns anos antes.

Em uma palestra realizada em São Paulo, durante o Curso de Radiologia Básica e na Exposaúde, o gerente adjunto Livis Dzelve abordou os desafios envolvidos na aquisição de equipamentos radiológicos. Ele destacou a importância de um planejamento estratégico a longo prazo, que permitisse prever reservas de espaço físico e verba para futuras aquisições. Esse planejamento deveria ser guiado por uma filosofia básica que definisse claramente as metas a serem alcançadas, e envolveria um grupo de trabalho multiprofissional para analisar as necessidades e determinar a metodologia do trabalho.

Dzelve ressaltou a importância de conhecer bem o mercado antes de realizar um investimento em equipamentos, incluindo a avaliação das necessidades de serviços médicos na região, a introdução de novas tecnologias para melhorar o atendimento aos pacientes e garantir um retorno mais rápido do investimento. Isso envolveria a análise da disponibilidade de equipamentos, sua atualização tecnológica, ciclo operacional e a reputação do fabricante, além da estrutura de assistência técnica oferecida.