Arte e Medicina

A peste de Atenas (Michael Sweerts, 1652)

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A praga de Atenas ou a peste de Atenas foi uma epidemia devastadora que afetou principalmente a cidade-estado de Atenas, em 430 a.C., no segundo ano da Guerra do Peloponeso, conflito militar na Grécia Antiga, que opôs as cidades formadas pela Liga de Delos (liderada por Atenas) e pela Liga do Peloponeso (liderada por Esparta). A imponente frota ateniense dominava o mar, onde o político Péricles havia conquistado um extenso império espalhado por todas as ilhas do Egeu. Em terra, porém, predominava o controle dos espartanos, que haviam chegado à própria Atenas com um grande exército.

A estratégia militar de Péricles durante a guerra também fez com que muitas pessoas do campo entrassem na já superlotada cidade de Atenas. Os atenienses refugiaram-se com confiança atrás das muralhas, enquanto o inimigo devastava os campos da Ática. Graças ao abastecimento de cereais e às comunicações atenienses assegurados por navios de guerra, a cidade podia permitir-se permanecer sitiada durante anos e, entretanto, atacar as costas inimigas impunemente.

O que eles não contavam era que um dos navios de transporte, vindo do Egito, traria consigo uma doença mortal que devastaria a cidade e enfraqueceria o seu exército e frota durante o resto da guerra.

Acredita-se que a praga tenha chegado a Atenas através do Pireu, o porto da cidade e única fonte de alimentos e suprimentos. Os casos começaram a multiplicar-se a um ritmo alarmante: velhos e jovens foram vítimas dos sintomas imparáveis da peste devido à impotência dos curandeiros e dos sacerdotes, que nada podiam fazer para salvar os infectados ou para prevenir novas infecções. Os próprios templos logo se encheram de doentes que imploravam aos deuses que os libertassem do terrível mal, tornando-se, assim, verdadeiras fontes de contágio que eram evitadas por aqueles que ainda eram saudáveis.

A cidade-estado de Esparta e grande parte do Mediterrâneo Oriental também foram afetadas pela epidemia, embora em menor grau. A praga voltou duas vezes, em 429 A.C. e no inverno de 426-425 A.C.

Esta foi a primeira pandemia documentada na história. Na sua História da Guerra do Peloponeso, o historiador contemporâneo Tucídides descreve a chegada da epidemia, que começou na Etiópia, passou pelo Egito e pela Líbia e depois atingiu o mundo grego. A epidemia eclodiu na cidade populosa e Atenas perdeu, possivelmente, um terço das pessoas abrigadas atrás dos seus muros. A visão de piras funerárias em chamas fez com que o exército espartano recuasse por medo de doenças.

Ela matou grande parte da infantaria ateniense, alguns dos marinheiros mais habilidosos e seu líder, Péricles, que morreu em um dos surtos subsequentes em 429 A.C. Após a morte, Atenas foi liderada por uma sucessão de líderes fracos e incompetentes. Segundo Tucídides, até 415 A.C. a população de Atenas não conseguiu se recuperar o suficiente para se preparar para a desastrosa expedição à Sicília.

O pintor barroco flamengo Michael Sweerts (1618-1664) nasceu em Bruxelas e atuou em Roma entre 1645 e 1652. Lá se aproximou do círculo de pintores holandeses, conhecido como Bamboccianti, dedicado à representação de cenas de gênero da vida cotidiana. Em sua pintura “A Peste de Atenas”, de 1652, apresenta com maestria composicional e detalhes técnicos luxuosos um cenário social devastado pela pandemia que impactou a cidade-estado de Atenas. O erotismo e a morte estão envoltos em alusões históricas, religiosas, artísticas e arqueológicas.

Os historiadores modernos não concordam se a peste foi ou não um fator crucial na derrota ateniense na guerra. Em todo caso, acredita-se que a perda desta guerra pode ter aberto o caminho para o sucesso dos macedónios e, eventualmente, dos romanos.

Tradicionalmente, esta doença tem sido identificada com um surto de peste bubônica, mas com base no estudo dos sintomas e da progressão da doença, alguns investigadores atuais concluíram que também poderia ser devida a uma epidemia de varíola ou mesmo de tifo. Uma teoria moderna culpa a febre tifoide pela peste.