Arte e Medicina

Óleo de castor (Newton Alonzo Wells, 1891)

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O óleo de rícino, erroneamente denominado óleo de castor por seu nome em inglês (castor oil), é obtido de uma planta cujo nome científico é Ricinus communis. Seu nome em inglês, provavelmente, vem de uma confusão entre a planta Ricinus, da qual é extraída, e outra planta, Vitex agnus-castus. Outros sugerem que foi usado como substituto do castóreo, uma secreção odorífera e oleosa das glândulas anais do castor, que o animal usa para cuidar do pelo.

O óleo de rícino tem sido usado medicinalmente desde os tempos antigos, principalmente como purgativo. Seu uso começou na Mesopotâmia, de onde os egípcios o importaram. A versatilidade do rícino determinou seu triunfo, já que foi utilizado até na construção civil por facilitar o deslizamento dos blocos de pedra utilizados na construção de templos egípcios como Abu Simbel, obeliscos e pirâmides.

A eficácia terapêutica dos purgativos baseava-se na antiga e persistente doutrina humoral que supunha que havia quatro tipos de líquidos ou humores nos seres vivos: sangue, fleuma ou linfa, bile amarela e bile negra. O estado de saúde dependia da correta proporção desses humores, e as doenças eram consequência de um excesso na quantidade total ou na predominância de algum deles. Os purgativos agiam eliminando os humores nocivos do corpo. Assim, junto com a sangria, que buscava o mesmo efeito retirando parte do sangue, a purgação era um pilar da terapia. Essa teoria para entender a saúde e a doença foi introduzida por Hipócrates, no século V aC., e vigorou até meados do século XIX. O uso indiscriminado de expurgos e sangrias foi uma das críticas mais contundentes dirigidas a médicos e boticários.

O óleo de rícino tem um sabor extremamente desagradável. A substância ativa é o ácido ricinoleico, que é liberado por enzimas intestinais. A reação ocorre de duas a quatro horas após a administração da dose. O mecanismo de ação do princípio ativo é semelhante ao da toxina diftérica, ou seja, é capaz de desativar a síntese de proteínas. O efeito baseia-se, por um lado, na acumulação de água no intestino e, por outro, na irritação das mucosas, que acelera o esvaziamento intestinal. Como efeito colateral, inibe-se a assimilação de sódio e água, além de vitaminas lipofílicas. Em doses elevadas, podem ocorrer náuseas, vômitos, cólicas e diarreia aguda, o que tem levado este óleo a ser utilizado como ferramenta de castigo e tortura (a juntar ao seu sabor desagradável). Além disso, foi descrita a aplicação de óleo de rícino em misturas para induzir o parto, como antibacteriano e antiviral. Atualmente, é utilizado na fabricação de plásticos, lacas, tintas, lubrificantes, cosméticos e armadilhas adesivas para insetos. Sua aplicação na produção de biodiesel também está contemplada.

 

Figura 1 – Óleo de castor

 

A pintura intitulada “Óleo de castor”, do pintor e professor de arte da Universidade de Illinois Newton, Alonzo Wells (1852-1923), mostra o momento em que uma criança doente está prestes a receber uma dose de óleo de rícino (Figura 1). A criança cobre a boca e olha para a mãe com uma expressão de pena, enquanto ela, convencida de seus efeitos benéficos – por mais desagradável que seja o sabor –, se prepara para dar ao filho uma colher de chá do remédio. Certamente, não é a primeira vez que o pobre menino é forçado a superar as náuseas e ingerir o temido óleo.

Embora os avanços científicos tenham começado a criticar a doutrina humoral no século XVII, a teoria dominou o pensamento médico ocidental por mais de 2.000 anos e só foi refutada definitivamente em 1858. Somente nessa época, os purgativos deixaram de ser uma das drogas mais usadas na prática diária.

Prof. Dr. Alfredo E. Buzzi

Professor Titular de Diagnóstico por Imagem, Universidade de Buenos Aires Membro Honorário Internacional da Sociedade Paulista de Radiologia.

O autor é editor da Revista “ALMA – Cultura y Medicina” (http://www.almarevista.com)