O óleo de rícino, erroneamente denominado óleo de castor por seu nome em inglês (castor oil), é obtido de uma planta cujo nome científico é Ricinus communis. Seu nome em inglês, provavelmente, vem de uma confusão entre a planta Ricinus, da qual é extraída, e outra planta, Vitex agnus-castus. Outros sugerem que foi usado como substituto do castóreo, uma secreção odorífera e oleosa das glândulas anais do castor, que o animal usa para cuidar do pelo.
O óleo de rícino tem sido usado medicinalmente desde os tempos antigos, principalmente como purgativo. Seu uso começou na Mesopotâmia, de onde os egípcios o importaram. A versatilidade do rícino determinou seu triunfo, já que foi utilizado até na construção civil por facilitar o deslizamento dos blocos de pedra utilizados na construção de templos egípcios como Abu Simbel, obeliscos e pirâmides.
A eficácia terapêutica dos purgativos baseava-se na antiga e persistente doutrina humoral que supunha que havia quatro tipos de líquidos ou humores nos seres vivos: sangue, fleuma ou linfa, bile amarela e bile negra. O estado de saúde dependia da correta proporção desses humores, e as doenças eram consequência de um excesso na quantidade total ou na predominância de algum deles. Os purgativos agiam eliminando os humores nocivos do corpo. Assim, junto com a sangria, que buscava o mesmo efeito retirando parte do sangue, a purgação era um pilar da terapia. Essa teoria para entender a saúde e a doença foi introduzida por Hipócrates, no século V aC., e vigorou até meados do século XIX. O uso indiscriminado de expurgos e sangrias foi uma das críticas mais contundentes dirigidas a médicos e boticários.
O óleo de rícino tem um sabor extremamente desagradável. A substância ativa é o ácido ricinoleico, que é liberado por enzimas intestinais. A reação ocorre de duas a quatro horas após a administração da dose. O mecanismo de ação do princípio ativo é semelhante ao da toxina diftérica, ou seja, é capaz de desativar a síntese de proteínas. O efeito baseia-se, por um lado, na acumulação de água no intestino e, por outro, na irritação das mucosas, que acelera o esvaziamento intestinal. Como efeito colateral, inibe-se a assimilação de sódio e água, além de vitaminas lipofílicas. Em doses elevadas, podem ocorrer náuseas, vômitos, cólicas e diarreia aguda, o que tem levado este óleo a ser utilizado como ferramenta de castigo e tortura (a juntar ao seu sabor desagradável). Além disso, foi descrita a aplicação de óleo de rícino em misturas para induzir o parto, como antibacteriano e antiviral. Atualmente, é utilizado na fabricação de plásticos, lacas, tintas, lubrificantes, cosméticos e armadilhas adesivas para insetos. Sua aplicação na produção de biodiesel também está contemplada.
A pintura intitulada “Óleo de castor”, do pintor e professor de arte da Universidade de Illinois Newton, Alonzo Wells (1852-1923), mostra o momento em que uma criança doente está prestes a receber uma dose de óleo de rícino (Figura 1). A criança cobre a boca e olha para a mãe com uma expressão de pena, enquanto ela, convencida de seus efeitos benéficos – por mais desagradável que seja o sabor –, se prepara para dar ao filho uma colher de chá do remédio. Certamente, não é a primeira vez que o pobre menino é forçado a superar as náuseas e ingerir o temido óleo.
Embora os avanços científicos tenham começado a criticar a doutrina humoral no século XVII, a teoria dominou o pensamento médico ocidental por mais de 2.000 anos e só foi refutada definitivamente em 1858. Somente nessa época, os purgativos deixaram de ser uma das drogas mais usadas na prática diária.