Gérard de Lairesse (1641-1711) foi um pintor e teórico holandês de estilo classicista, o último mestre relevante do Barroco nos Países Baixos.
Produziu principalmente pinturas de grande formato para edifícios públicos e mansões, incluindo quadros e painéis de teto que recriam a pintura a fresco. Seus temas recorrentes eram mitológicos e alegóricos, embora também tenha abordado temas bíblicos, sempre dentro da mesma estética artificiosa e monumental. Seu estilo parece se conectar com vários artistas italianos e franceses, como Poussin e Pierre Mignard.
Embora pintasse com evidente habilidade, não era tão talentoso na aplicação das cores quanto no desenho: introduzia tons metálicos por meio de pinceladas polidas, criando contrastes um tanto rígidos. Seu trabalho como gravador talvez seja ainda mais valorizado.
Lairesse também fez ilustrações para escritos de anatomia e projetou cenários teatrais.
Teve uma vida com tons novelescos. Sofria de sífilis congênita, embora tenha vivido até os 70 anos. Ainda jovem, precisou fugir de sua cidade natal devido a problemas amorosos. Foi um artista multifacetado e de ampla cultura; seus escritos tiveram influência no século XVIII, e ele também se interessava por música e teatro.
Embora tenha sido o artista holandês mais renomado da segunda metade do século XVII, atualmente, é mais conhecido pelo retrato que Rembrandt fez dele do que por suas próprias obras. As teorias de Lairesse sobre o ideal na pintura eram completamente opostas às de Rembrandt, a quem ele comparou depreciativamente com “barro líquido sobre a tela”, mas o retrato ainda transmite certa simpatia.
Rembrandt o pintou em 1665, registrando sua aparência infeliz com uma franqueza inflexível e conferindo ao modelo um ar de tranquila dignidade. Trata-se de uma pintura a óleo pertencente à coleção do Museu Metropolitano de Arte de Nova York. A obra retrata Gérard de Lairesse, que tinha 26 anos na época, sentado em uma poltrona, voltado para a esquerda e olhando para o espectador. Sua mão esquerda repousa sobre o braço da cadeira, segurando um documento, enquanto sua mão direita está inserida sob a jaqueta, junto ao peito. Seus cabelos encaracolados caem sobre o colarinho largo e liso de tecido branco, que possui duas borlas. Ele veste uma jaqueta escura com uma capa preta por cima e um grande chapéu de feltro de aba larga.
Seu nariz em “sela de montar” exibe as características típicas da sífilis congênita. Também apresenta a protuberância crânio-frontal característica e as fissuras peribucais. Outros sintomas comuns da sífilis congênita incluem acometimento do sistema nervoso com meningoencefalite, comprometimento do oitavo par craniano, que pode levar à surdez, e ceratite intersticial parenquimatosa, que pode causar cegueira bilateral.
Gérard de Lairesse ficou cego por volta de 1690 e, a partir de então, concentrou suas energias na teoria da arte. Faleceu em 1711.
Prof. Dr. Alfredo E. Buzzi
Professor Titular de Diagnóstico por Imagem, Universidade de Buenos Aires
Membro Honorário Internacional da Sociedade Paulista de Radiologia
O autor é editor da Revista “ALMA- Cultura y medicina”