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Está na hora de atualizar o Questionário de Rastreamento de Função Renal para Exames Contrastados

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Há algumas décadas, na intenção de minimizar a incidência de Injúria Renal Aguda Pós Contraste (IRA-PC), os Serviços de Diagnóstico por Imagem instituíram questionários para identificar aqueles pacientes com fatores de risco para função renal anormal, com taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) < 60 ml/min/1,73 m².

O objetivo do questionário era restringir apenas a esse grupo a necessidade compulsória de apresentação de exame recente de creatina sérica (SCr) antes do exame imagem contrastado. Tais critérios incluíam idade > 60 anos, diabetes melito, hipertensão, anemia, congestão/insuficiência cardíaca e história de doença renal ou cirurgia renal.

No entanto, publicações recentes sobre IRA-PC evidenciaram que o risco relacionado ao meio de contraste fora superestimado e que o único fator de risco isolado é a presença de doença renal crônica (DRC) grave, com TFGe < 30 ml/min/1,73 m² (1). Entre 2018 e 2021, o ESUR (2-4) e o ACR (5) publicaram atualizações de suas diretrizes sobre o tema.

Em sua mais recente atualização do Manual sobre Meios de Contraste, o ACR sugere que a triagem de rotina com avaliação da SCr basal antes da injeção intravascular de meio de contraste iodado de baixa osmolalidade seja realizada apenas naqueles pacientes considerados de risco para a presença de TFGe < 30 ml/min/1,73 m². Desse modo, a lista de critérios do questionário de rastreamento foi reduzida e passou a englobar predominantemente a presença de histórico de doença renal incluindo:

  • DRC
  • Injúria renal aguda prévia
  • Diálise
  • Cirurgia renal / ablação renal
  • Proteinúria

 

Nessa atualização, o ACR não inclui a idade do paciente e nem presença de hipertensão arterial entre os critérios para triagem de SCr antes do exame contrastado, já que tais critérios ampliam consideravelmente a taxa de pacientes que acabam tendo TFGe > 30 mL/min/1,73 m². Rim único e rim transplantado, mas sem histórico de disfunção renal, também foram excluídos da lista de critérios do ACR. A exclusão desses critérios reduz o número de testes supérfluos de SCr com economia de custos e com impacto significativo no fluxo de exames.

A inclusão de diabetes melito também tem grande impacto no número de pacientes que são encaminhados para rastreamento de creatinina sérica e que acabam tendo TFGe > 30 mL/min/1,73 m², mas persiste controversa em virtude da associação de diabetes com DRC e de ser fator adicional de risco para IRA-PC, apesar de não ser fator isolado de risco. O ACR deixa esse critério como opcional no rastreamento.

A validade sugerida do exame de SCr para pacientes ambulatoriais com DRC estável é de 30 dias pelo ACR 2021 e de três meses pelo ESUR.

O protocolo de rastreamento de função renal também precisa ser revisto quanto aos Meios de Contraste à Base de Gadolínio (MCBG). Estudos recentes evidenciam que o risco de Fibrose Sistêmica Nefrogênica é extremamente baixo quando se usam os MCBG do grupo 2 na dose recomendada de 0,1 mmol/Kg, mesmo em pacientes com DRC grave com TFGe < 30 mL/min/1,73 m² (6). Dessa forma, não faz mais sentido exigir exame de SCr basal ou omitir a fase contrastada de um exame de RM para tais pacientes, mantidas essas condições.

 

Referências bibliográficas

  1. Davenport MS, Perazella MA, Yee J, Dillman JR, Fine D, McDonald RJ, et al. Use of intravenous iodinated contrast media in patients with kidney disease: Consensus statements from the American College of Radiology and the National Kidney Foundation. Radiology. 2020;(19):192094.
  2. Van der Molen AJ, Reimer P, Dekkers IA, Bongartz G, Bellin M-F, Bertolotto M, et al. Post-contrast acute kidney injury – Part 1: Definition, clinical features, incidence, role of contrast medium and risk factors. Recommendations for updated ESUR Contrast Medium Safety Committee guidelines Eur Radiol. 2018;28(7):2845–55.
  3. Van der Molen AJ, Reimer P, Dekkers IA, Bongartz G, Bellin M-F, Bertolotto M, et al. Post-contrast acute kidney injury. Part 2: risk stratification, role of hydration and other prophylactic measures, patients taking metformin and chronic dialysis patients. Eur Radiol. 2018;28(7):2856–69.
  4. Contrast Media Safety Committee. ESUR Guidelines on Contrast Agents v10.0 [Internet]. European Society of Urogenital Radiology 2018. Available http://www.esur.org/fileadmin/content/2019/ESUR_Guidelines_10.0_Final_Version.pdf
  5. Members of the ACR Committee on Drugs and Contrast Media. ACR Manual on Contrast Media [Internet]. American College of Radiology. 2021. Available from: https:// www.acr.org/-/media/ACR/Files/Clinical-Resources/Contrast_Media.pdf
  6. Weinreb JC, Rodby RA, Yee J, Wang CL, Fine D, McDonald RJ, Perazella MA, Dillman JR, Davenport MS. Use of Intravenous Gadolinium-Based Contrast Media in Patients With Kidney Disease: Consensus Statements from the American College of Radiology and the National Kidney Foundation. Radiology 2021 Jan; 298 (1): 28-35

 


 

Revisão: Dra. Bruna Garbugio Dutra

Autor

Ana Teresa de Paiva Cavalcante

Dra. Ana Teresa de Paiva Cavalcante tem Doutorado em Ciências pela USP. É Pós-graduada em Segurança e Qualidade pela Harvard Medical School – SQIL Program; Certificada em Segurança em Ressonância Magnética pelo American Board of Magnetic Resonance Safety – ABMRS – MRSC™. É Radiologista do grupo de Medicina Interna do Americas/UHG Brasil.