O Ministério da Saúde anunciou, em setembro, uma mudança importante na política de rastreamento do câncer de mama: a mamografia passa a ser indicada no SUS para mulheres a partir dos 40 anos, mesmo sem sintomas. Até então, a diretriz oficial recomendava o exame apenas entre os 50 e 69 anos – faixa etária em que o risco da doença é considerado mais elevado.
A decisão representa um avanço significativo para a saúde da mulher no Brasil. Diversas pesquisas apontam que uma proporção relevante dos casos de câncer de mama no país é diagnosticada antes dos 50 anos, o que reforça a importância da detecção precoce. Com a medida, será possível identificar tumores em estágios iniciais, quando as chances de cura são maiores e os tratamentos menos invasivos, beneficiando tanto as pacientes quanto o sistema de saúde.
A Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), por meio da Dra. Selma di Pace Bauab, que integra a Comissão Científica de Mama da SPR, analisa a decisão sobre a mamografia no SUS e destaca a importância da ampliação do rastreamento mamográfico no Brasil.
Posicionamento da Dra. Selma di Pace Bauab
“No Brasil, uma fração significativa das mulheres diagnosticadas com câncer de mama tem menos de 50 anos. Os dados reforçam a necessidade do rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos. A solução é detectar o câncer precocemente, evitando tratamentos mais agressivos e caros. Isso é muito mais econômico para o sistema público, para os convênios e para os pacientes privados.
Se os órgãos gestores da saúde conseguirem absorver essa constatação, haverá maior economia de recursos e, principalmente, menos sofrimento para as mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Um exemplo de que essa abordagem é factível é o rastreamento oportunístico realizado pelo Hospital de Amor de Barretos, onde se pratica o tripé: começo (rastreamento), meio (biópsia) e fim (tratamento).
A luta pelo rastreamento mamográfico é antiga e, ao longo do tempo, enfrentou questionamentos de epidemiologistas e médicos, relacionados a falhas no diagnóstico (falsos positivos e falsos negativos) e ao risco da radiação. Esses argumentos, muitas vezes repetidos na literatura e na mídia, acabam atrasando o avanço do rastreamento, principalmente em países em desenvolvimento. No entanto, quando o rastreamento é realizado com responsabilidade, esses riscos são mínimos e largamente superados pelos benefícios.
Embora o tratamento para o câncer de mama tenha evoluído muito nos últimos anos, com drogas-alvo e avanços na quimioterapia, as taxas de mortalidade são menores nas mulheres que realizam rastreamento e têm diagnóstico precoce, em comparação com aquelas que não foram rastreadas.
Os números mostram que, nos países desenvolvidos, tanto a incidência quanto a mortalidade por câncer de mama diminuíram. Já em países em desenvolvimento, como o Brasil, esses índices aumentaram — um sinal claro de que estamos errando. Assim, a decisão do Ministério da Saúde de reduzir a idade de início do rastreamento e ampliar a idade limite pode representar o primeiro passo para mudar essa realidade.
É importante lembrar que essa conquista é das mulheres, por meio de suas representantes em sociedades médicas e da sociedade civil, que se uniram fortemente para reivindicar esse direito. Cabe agora a nós, profissionais de saúde, seguir evoluindo para garantir êxito não só no início, mas também no meio e no fim desse processo.”