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Em aula, na JPR 2008

Experiência brasileira exportada para os EUA

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Dr. Antônio Sergio Zafred Marcelino é um grande parceiro da SPR. Em seus 26 anos de atuação no Brasil, ocupou cargo em serviços diversos, principalmente no InRad e no Hospital Sírio-Libanês. Ao longo desse período, atuou na Comissão de Painéis e Temas Livres da JPR e, com o Dr. Sergio Kobayashi, fundou o GEUS (Grupo de Estudos em Ultrassonografia), o qual coordenou por alguns anos.

Há dois anos, se mudou para os Estados Unidos, onde trabalha na Universidade de Iowa. Recentemente, esteve no Brasil e presenteou os colegas com sua presença no Clube Manoel de Abreu em Marília. Na ocasião, concedeu esta entrevista ao Portal de Notícias da SPR.

 

Como começou sua atuação na radiologia, ainda no Brasil?

Antes de tudo, aproveito o espaço para agradecer a todos que fizeram e ainda fazem parte da minha trajetória profissional. São dezenas de amigos! Fica impossível citar. 

No CMA de Marília, em março, com os Drs., a partir da esq., Felipe Pacheco, Lázaro do Amaral, Ricardo Baaklini, Helena Cristina e Antonio Rocha

Muito feliz em encontrar aqui em Marília o Ricardo Baaklini, Antonio Rocha, Regis França, Daniel Lahan, Eduardo Akuri, Helena Cristina, Rui Almeida (Canon) e outros aqui no Clube Manoel de Abreu.

Bom…. Vamos lá…

Já pensava em radiologia durante a vida acadêmica ainda na FAMEMA (Faculdade de Medicina de Marília), isso por volta de 1988. Fechem os olhos e imaginem o que tínhamos no final da década de 1980 e início de 1990.

No 5º ano de FAMEMA, prestei um concurso de transferência para a FMUSP-SP. Aprovado, voltei e refiz o 4º ano de faculdade e prossegui até finalizar minha Formação Médica na FMUSP. Em 1993 iniciei a Residência em Radiologia na FMUSP, hoje InRad.Terminei em 1996. Éramos 8 residentes por ano.

 

Quanto tempo o sr. atuou aqui e em quais serviços? 

Clinical Fellow na Thomas Jefferson em 2004. Dr. Marcelino, Ji Bin Liu (hoje Full Professor da TJU), Dan Merton (Diretor dos sonographers e responsável por protocolos de pesquisa) e Dr. Deng (visiting Fellow)

Atuei por aproximadamente 26 anos no Brasil. Uma curta passagem por pequenos serviços no interior de SP, mas voltei ao InRad em meados de 2000-2001 como professor voluntário do Serviço de Ultrassom. Dra. Ilka me deu essa oportunidade. Permaneci por alguns anos como voluntário. Assim que fui contratado no InRad, já com a Dra. Cris Chammas, fiz um Clinical Fellow na Thomas Jefferson University, Philadelphia em 2004. Professor Giovanni Cerri me orientou nesta nova “empreitada”. Lá aprendi muito sobre Contraste, Elastografia e Doppler. Fiz excelentes amigos, entre eles, Professor Barry Goldberg, Prof. JI Bin Liu e Dan Merton.

Voltei ao Brasil. Em pouco tempo, a convite do Prof. Giovanni Cerri, comecei no Hospital Sírio-Libanês, onde permaneci até janeiro de 2022, sempre no serviço de ultrassonografia. Continuei no InRad até 2011/2012.

 

Quais lembranças e experiências tem para contar – seja nos serviços, nos congressos ou em outros eventos da área?

As lembranças são muitas. A radiologia era menor. Grandes nomes da radiologia foram meus professores. Colegas de turma, R (+), R (-) , colegas de trabalho no InRad e HSL e alguns dos alunos de residência médica do InRad e do Sírio-Libanês são profissionais de excelência no Brasil e no exterior, especialmente nos EUA.

Sempre com o espírito colaborativo, fiz muitos amigos, não apenas radiologistas mas uma intensa e extensa networking. Digo intensa porque demandou muita, muita dedicação. Muito tempo extra em ajudar os clínicos, cirurgiões e pacientes com meus exames de ultrassom e Doppler. Aprendi muito. Pouco a pouco enxerguei como somos importantes, especialmente ultrassonografistas, em fornecer melhor cuidado aos pacientes. Muitos pacientes se tornaram amigos também. Com alguns amigos médicos e antigos pacientes mantenho contato até os dias de hoje, semanalmente, às vezes.

No InRad, tive o privilégio de colaborar com alguns projetos de pesquisa desde o início. Com o Dr. Carnevalle, por exemplo, desde o início colaborei no projeto de embolização de próstata. Em 2008 finalizei minha tese de Doutorado em transplante de pâncreas e meio de contraste de microbolhas orientado pelo Prof. Giovanni.

Na SPR participei por muitos anos da Comissão de Painéis e Temas Livres. Um grupo bastante ativo, liderado pelo Dr. Renato Mendonça. As reuniões eram muito “divertidas”. Na JPR colaborei com algumas aulas durante vários anos.

Na Presidência do Dr. Marcelo Rossi na SPR, eu e o Dr. Sergio Kobayashi fundamos o GEUS (Grupo de Estudos em Ultrassonografia), no qual permaneci como coordenador por alguns anos.

A partir da dir., Dr. Marcelino e, a seu lado, Dr. Barry Goldberg com amigos durante o Leading Edge em 2007

O vínculo informal com o Grupo da Thomas Jefferson me deu experiência em algumas aulas internacionais no Leading Edge, um excelente congresso de ultrassom realizado anualmente em Atlantic City. Ainda com o Grupo fiz algumas aulas para o Sonoworld novamente a convite do Prof. Barry Goldberg e Larry Wouldroup. Me orgulho de ter sido o primeiro e único brasileiro a ter aulas disponibilizadas no site. O Sonoworld, hoje extinto, possuía mais de 160 mil membros registrados. Foi o maior canal de comunicação em ultrassonografia com mais de 500 vídeo aulas disponíveis isentas de custo. Foi vendido e após, descontinuado. Que pena!

No Sírio-Libanês também coordenei por alguns anos o Ambulatório de Filantropia de ultrassom, voltado para o ensino de residentes  e assistência com aproximadamente 3 mil exames por mês e também desenvolvi novos projetos de ultrassonografia, especialmente o ultrassom de alta frequência junto com alguns colegas. O Hospital Sírio-Libanês foi uma das primeiras instituições no mundo, a primeira das Américas, a utilizar os transdutores de alta resolução de 24 e 33 MHz para estudos de estruturas superficiais.

 

Como tomou a decisão de morar fora do Brasil? Como foi essa mudança?

Há 8-9 anos, recebi um convite de outra excelente Instituição nos EUA , mas não prossegui.

Agora a mudança foi rápida. A partir do momento que recebi o convite, iniciei o processo.

A decisão partiu da necessidade de mudança, da minha vontade e da possibilidade de utilizar todo o meu background (conhecimento e networking) e colaborar em outra instituição que vem crescendo significativamente ao longo dos últimos anos. Crescer e sustentar o crescimento em um ambiente extremamente competitivo como é o mercado universitário dos EUA é desafiador.

O grupo aqui em Iowa também é muito bom. Ajuda muito a liderança do Bruno Policeni, que é o atual Chairman da Radiologia. Ele está há mais de 18 anos na Universidade de Iowa, conhece todas as áreas envolvidas e se dedica de corpo e alma à Universidade. Alguns brasileiros em diferentes especialidades também fazem parte dessa rede.

 

Há quanto tempo o sr. atua nos EUA? Em que serviço e com qual função?

Completei 2 anos. Estou na Universidade de Iowa. 

Estou como Clinical Professor. Atuo no body imaging com ultrassom, raio X e TC. Estou Diretor Médico de Educação em Diagnóstico por Imagem para os Estudantes de Medicina. Essa é outra experiência interessante.

 

Como se compara a rotina radiológica norte-americana à brasileira? Como é a sua rotina hoje?

Primeiro, há um déficit crescente e contínuo de radiologistas nos EUA.

Há 2 mercados: o privado e o acadêmico-universitário.

Participo do mercado acadêmico-universitário. Minha rotina é de segunda a sexta das 8h – 17h. 70% de atividade clínica e 30% de atividade acadêmica. Ainda, há 2-3 plantões a distância por semestre onde fazemos a liberação dos exames. Existem as licenças (remuneradas e com incentivo financeiro) para congressos e outros inúmeros benefícios agregados nas Universidades.

O ambiente privado e o universitário ainda são excelentes em termos de compensação financeira quando comparados ao Brasil e o “work x life balance” é muito melhor.

Há oportunidades em muitas universidades, não apenas nas mais “famosas” que estamos acostumados a ouvir no Brasil. Aqui na Universidade de Iowa, temos um hospital com mais de 1 mil leitos. Houve a aquisição de um hospital privado recentemente (2 meses) que adicionou mais 250 leitos e toda estrutura de apoio diagnóstico e profissionais. No próximo ano começará a funcionar um hospital de ortopedia e medicina esportiva e há outros projetos de expansão em andamento.

Todos os procedimentos de alta complexidade e pesquisa estão disponíveis. Várias unidades satélites interligadas fornecem apoio ao hospital que é referência para o Estado e regiões próximas de estados adjacentes.

 

O sr. tem alguma sugestão para melhorar as parcerias com os serviços no exterior?

RSNA 2023 em Chicago. A partir da esq., Édson Lopes, Prof. Giovanni Cerri, Dr. Marcelino e Marcos Felipe (Chefe do grupo de MSK do Hospital Sírio- Libanês)

É de longa data a presença de radiologistas brasileiros em outros países. 

Somos profissionais reconhecidos há muito tempo, alguns ocupando posições de destaque.

O Colégio Brasileiro e a Sociedade Paulista de Radiologia exercem uma liderança ímpar ao realizar as parcerias com Sociedades Internacionais ao redor do mundo. Algumas instituições privadas e Universidades brasileiras também fazem o mesmo com instituições e universidades do exterior. Essa troca de conhecimento é fundamental para o crescimento de todos.

Entretanto, há nuances particulares de cada país, de cada região, de cada serviço.

Conhecer a experiência pessoal dos radiologistas que vivem no exterior pode gerar algo interessante por causa de algumas particularidades regionais ou de cada serviço que podem não “aparecer” quando fazemos parcerias maiores com sociedades nacionais, por exemplo. Conversar e conhecer um ao outro pode gerar outras parcerias educacionais, de pesquisa, eventos online, eventos mistos ou mesmo em aspectos pontuais de gestão e administração, simplesmente ao trocar experiências. 

 

Que conselhos o sr. daria aos profissionais que têm a expectativa de atuar fora do Brasil?  

É necessário pensar na sua oportunidade e se dedicar. Se não vislumbrar uma oportunidade, comece a criá-la. Dedicação acima de tudo, sem segredos. Também é necessário entender que a mudança menor será o trabalho diário dos laudos. As maiores adaptações incluem o dia a dia fora do trabalho de todos os familiares envolvidos e o impacto que a mudança cultural irá causar. Fundamental estar apto e aberto a mudanças e reaprender algumas particularidades.

Meu conselho é conhecer antes, conversar com quem já vive essa experiência no local de escolha. Um grupo de apoio será importante.

O Radiologista brasileiro bem formado está em alta. É “uma moeda valiosa” em muitos países. Nossa formação é muito boa e as oportunidades são diversas.  

Com muito trabalho, mais parcerias e a liderança do Bruno Policeni, um dos primeiros Chairmans do Brasil em Universidades dos Estados Unidos, senão o único até o momento, o departamento de Radiologia da Universidade de Iowa será ainda mais reconhecido no cenário nacional e internacional.

 

Confira algumas curiosidades de Iowa (fun facts)

  • O estado de Iowa é um estado essencialmente agricultor que tem como fronteira o rio Mississipi a leste e o rio Missouri a oeste.
  • Iowa city, cidade da Universidade de Iowa, é reconhecida como a cidade da literatura da UNESCO, a primeira das Américas e terceira no mundo.
  • O nado borboleta foi inventado na década de 1930 na Universidade de Iowa. 
  • Riverside é o futuro local de nascimento do Capitão Kirk, de Jornada das Estrelas em 22 de março de 2228. 
  • John Wayne nasceu em Winterset, no condado de Madison do filme “As pontes de Madison”.
  • O Slipknot foi criado em 1995, em Des Moines, capital do Estado.
  • Mas atualmente, o que mais chama a atenção na mídia é a maior jogadora de basquete feminino universitário da história que atua na Universidade de Iowa. Seu nome? Caitlin Clark. Simplesmente espetacular com mais de 1.100 pontos em única temporada e outros recordes, incluindo a maior pontuação do basquete universitário feminino e masculino na história.