A síndrome de Guillain-Barré é um distúrbio neurológico que inclui um grupo de doenças autoimunes caracterizadas por paralisia flácida simétrica e rapidamente progressiva das extremidades, com reflexos acentuadamente diminuídos ou ausentes devido ao ataque do sistema imunológico ao sistema nervoso periférico. Suas causas não são bem compreendidas, mas foi demonstrado que, em grande parte dos casos, há uma infecção gastrointestinal ou faríngea nos dias que antecedem o início da doença.
Esta síndrome inclui polirradiculopatia desmielinizante (a forma mais comum), neuropatia axonal motora, neuropatia axonal sensório-motora, síndrome de Miller-Fisher, polineurite craniana, pandisautonomia aguda e envolvimento sensorial puro (a forma mais rara).
Se esses sintomas aumentarem de intensidade, o paciente pode ficar quase completamente paralisado. Nesse caso, a vida do paciente pode ser ameaçada devido ao envolvimento dos músculos respiratórios.
Desde o início do século XIX, a literatura médica relata casos de dormência com fraqueza, que se desenvolvem em um curto período, e depois se recuperam espontaneamente. O nome dessa doença é dado aos neurologistas franceses Georges Charles Guillain e Jean-Alexandre Barré que, juntamente com André Strohl, serviram como médicos no exército francês durante a Primeira Guerra Mundial. Eles encontraram dois soldados que sofreram paralisia parcial e posteriormente se recuperaram dessa condição. Eles publicaram seu relatório clássico sobre esse distúrbio em 1916. Lá, observaram o comprometimento dos reflexos e mencionaram uma característica especial ou distintiva: um aumento na concentração de proteínas no líquido cefalorraquidiano sem aumento no número de células (dissociação albuminocitológica), o que foi uma descoberta crucial para a época.
Segundo as escrituras bíblicas, Sansão, filho de Manoai, da tribo de Dã, foi quem liderou os israelitas contra os filisteus. Sob um voto de consagração a Deus, nesses acordos religiosos inexplicáveis, esse homem foi obrigado a se abster do pecado e cortar o cabelo, o que lhe conferiu força sobre-humana.
Esse segredo, guardado a sete chaves, foi revelado por Dalila que, em troca de dinheiro oferecido pelos filisteus, seduziu o homem forte a revelar seu segredo. Uma vez adormecido em seu colo, e agora barbeado, Sansão perdeu as forças e seus olhos foram arrancados, antes de ser escravizado.
No entanto, tanto seu cabelo quanto sua força foram restaurados posteriormente. Durante um ritual em que os filisteus costumavam desfilar prisioneiros, Sansão se barricou entre duas colunas do templo e, ao demoli-las, conseguiu destruir o edifício e, com ele, cerca de mil filisteus.
Esta lenda do século XI a.C. descreve um indivíduo que desenvolve fraqueza muscular repentina, embora reversível, semelhante a uma pintura de Guillain Barré.
A síndrome de Guillain-Barré é a causa mais comum de paralisia flácida. É uma doença autoimune que afeta a mielina da porção proximal dos nervos periféricos. Após a fase de progressão, a doença se estabiliza por algumas semanas, seguida por uma recuperação gradual da função motora.
Essa doença autoimune também pode causar queda de cabelo. No caso de Sansão, seu corte de cabelo teria sido uma expressão simbólica de seu pecado ao se apaixonar por uma mulher “impura”, confessando seu segredo a ela.
Peter Paul Rubens (1577-1640) retratou o momento em que o homem forte enamorado é traído por Dalila (figura ao lado), conforme citado em Juízes 16-19: “Então ela o fez dormir em seus joelhos, chamou um homem e raspou as sete tranças de cabelo de sua cabeça, e ele começou a ficar angustiado, e sua força o abandonou”.
A obra está atualmente na National Gallery, em Londres.
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Prof. Dr. Alfredo E. Buzzi
Professor Titular de Diagnóstico por Imagem, Universidade de Buenos Aires
Membro Honorário Internacional da Sociedade Paulista de Radiologia
O autor é editor da Revista “ALMA- Cultura y medicina”