No verão de 1865, Claude Monet se dirigiu ao vilarejo de Chailly-en-Bière, na floresta de Fontainebleau, onde se encontrou com seu amigo, o pintor Frédéric Bazille, que posou para sua famosa pintura “Almoço sobre a Relva”. Nesse vilarejo, alguns jovens que brincavam de arremesso de disco de bronze acertaram Monet na perna. Graças aos seus conhecimentos de medicina, Bazille improvisou um hospital de campanha no quarto da hospedaria onde estavam alojados para atender seu amigo e, ali, nesse ambiente, o retratou.
O nome oficial da pintura é “A ambulância improvisada” (L’ambulance improvisée). Também é conhecida como “O hospital improvisado de campanha” ou “Monet após seu acidente em Chailly”. O quadro pertence ao Museu de Orsay.
A obra tem um estilo realista (o que predominava naquela época), ainda sem a influência do impressionismo que estava começando.
Representa um quarto pequeno, com pouca decoração, piso rústico e papel de parede modesto. Monet está deitado em uma cama, um pouco desarrumada. Sua perna direita está ligeiramente elevada, sem qualquer tipo de imobilização. A pele avermelhada em sua parte média é claramente distinguível, sem deformidade ou solução de continuidade. O rosto do artista está voltado para o observador e mostra tédio ou exaustão, talvez pela falta obrigatória de atividade. Destaca-se um pesado recipiente sustentado por duas cordas acima da perna, que repousa sobre uma manta grossa e escura de pele ou couro. Na beira da cama, há uma bacia e um balde.
O recipiente pendurado sobre a perna servia para gotejar um antisséptico e tratar a celulite observada na perna de Monet, e as bacias ao lado da cama eram usadas para recolher o líquido que escorresse ou para preparar a solução antisséptica.
Frédéric Bazille nasceu em Montpellier, em uma família protestante abastada, o que lhe permitiu estudar belas artes com a condição de que também estudasse medicina, carreira que abandonou em 1864. Era um dândi carismático, barbudo e grande (media quase 1,90m).
Melômano, de mente brilhante e admirado pelos colegas, conheceu Pissarro, Renoir e Caillebotte, mas seus amigos mais próximos foram Claude Monet, Alfred Sisley e Édouard Manet, a quem, graças à fortuna familiar, apoiou, especialmente Monet, com espaço em seu estúdio, materiais e modelos para pintar, além de financiá-los discretamente ao comprar suas pinturas. É considerado essencial para entender a vida desses artistas e o nascimento do movimento impressionista. Bazille tinha um estilo mais realista e é chamado de proto-impressionista.
Para 1870, Bazille havia conquistado certo prestígio por seu trabalho. Naquele ano, começou a guerra franco-prussiana. Desconsiderando o conselho de vários amigos, alistou-se em um regimento zouave de infantaria e, durante seu primeiro combate, morreu no campo de batalha, antes de completar 29 anos, interrompendo uma das carreiras mais promissoras de sua época.
Ele realizou cerca de 60 pinturas, combinando paisagens e retratos, e também recorreu a um dos temas favoritos do impressionismo: as pinturas de gênero, onde uma ou mais pessoas se divertem ao ar livre. Em vida, não vendeu nenhuma de suas obras. Dada sua boa condição econômica, provavelmente pintava por gosto e não estava muito interessado em ganhar dinheiro com isso. Embora não tenha vivido para ver o sucesso do impressionismo, desde 1910, sua influência no movimento tem sido reconhecida.
Prof. Dr. Alfredo E. Buzzi
Profesor Titular de Diagnóstico por Imágenes, Universidad de Buenos Aires
Miembro Honorario Internacional de la Sociedad Paulista de Radiología
El autor es editor de la Revista “ALMA- Cultura y medicina”