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Diventerò

Dra. Maria Clara Zotin compartilha sua experiência com o Diventerò

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O Progetto Diventerò acompanha jovens de talento para um estágio em Diagnóstico por Imagem de seis semanas na Itália. Essa é uma iniciativa resultante da parceria entre a SPR e a Fundação Bracco, que já contemplou mais de 2 mil beneficiados.

As inscrições para o processo seletivo da próxima edição estão abertas e terminam em 30 de junho. Três alunos serão selecionados para serem acompanhados por um mentor/orientador científico em sua área de interesse dentro do Diagnóstico por Imagem.

Confira a experiência da Dra. Maria Clara Zanon Zotin, uma das ganhadoras que embarcou para Gênova.

Fachada do hospital

Em que serviço/cidade você ficou?

Acompanhei o serviço de neurorradiologia pediátrica do Ospedale Giannina Gaslini, em Gênova.

Quem era o médico responsável pela equipe em que atuou?

O serviço é chefiado pelo Professor Andrea Rossi.

Como era a equipe, tamanho, rotina de trabalho?

A equipe era formada por quatro neurorradiologistas pediátricos (Mariasavina Severino, Domenico Tortora, Antonia Ramaglia e Martina Resaz) que trabalhavam em conjunto com tecnólogos em radiologia, enfermeiros, médicos anestesiologistas e neonatologistas. A equipe contava ainda com dois residentes de radiologia, duas pesquisadoras em neuroimagem, alguns alunos de mestrado e doutorado e radiologistas visitantes italianos e estrangeiros.

A rotina envolvia exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética. Todos os dias havia períodos de RM dedicados a pacientes sob anestesia e duas tardes por semana eram dedicadas a exames de RM em neonatos. Os neurorradiologistas eram divididos em períodos de 6h em 4 atividades (RM1, RM2, TC e consultoria externa). A rotina de trabalho envolvia ainda reuniões clínicas multidisciplinares, como as de AVC pediátrico, neuro-oncologia, epilepsia, e doenças raras.

O que lhe admirou no trabalho lá desenvolvido?

Com o chefe do serviço, Dr. Andrea Rossi

Certamente o que mais admirei no trabalho desenvolvido no Instituto Gaslini foi o grau de protagonismo do serviço de Neurorradiologia. Exames de urgência são encaixados mediante discussão direta do caso por telefone com o neurorradiologista de plantão, que indica o melhor método de imagem para cada caso dentro das disponibilidades daquele momento. Cada laudo é tratado como um pedido de interconsulta, ou seja, antes da realização do exame o prontuário e os exames prévios são revisados, e o melhor protocolo é escolhido. Se não há informações suficientes no pedido ou no prontuário, eles entram em contato com o solicitante e perguntam diretamente.

O relacionamento com as demais clínicas é cordial e próximo. Os neurorradiologistas têm total autonomia para modificar protocolos e, não raro, realizam diretamente o exame no aparelho em casos mais complexos. Foi impressionante ver a destreza e confiança com que manipulam os aparelhos de RM, rapidamente ajustando protocolos quando necessário.

Tive a oportunidade de ver um procedimento de ablação tumoral guiada por RM em que o neurorradiologista teve um papel central. Técnicas avançadas de RM são rotineiramente utilizadas, com protocolos finamente ajustados. Os laudos são extremamente detalhados e os valores de referência de normalidade utilizados são em grande parte obtidos a partir de estudos desenvolvidos na mesma instituição, com casuística própria. Há um forte envolvimento não apenas com pesquisa mas também com as atividades da sociedade européia de neurorradiologia e de neurorradiologia pediátrica. As reuniões multidisciplinares são regulares e os neurorradiologistas têm participação central nelas. Os radiologistas colaboram entre si, compartilhando casos interessantes e desafiadores.

Quais diferenças identificou na Radiologia praticada no Brasil e na Itália?

Com a equipe do hospital

As principais diferenças que identifiquei foram relativas ao grau de independência e envolvimento dos radiologistas com o serviço. Ao conseguirem modificar e ajustar protocolos sempre quando necessário, os neurorradiologistas assumem maior participação na linha de cuidado do paciente.

O relativo menor número de exames por período permite maior atenção a cada protocolo e um maior grau de detalhe nos laudos. A disponibilidade de tempo específico para atividades de consultoria e pesquisa permite o aprimoramento progressivo das atividades assistenciais.

O que destaca como principais aprendizados, tanto cientificamente, quanto de vivência, rotina?

Aprendi que bons laudos exigem a convergência de atividades assistenciais e de pesquisa. Para oferecermos mais aos nossos pacientes, precisamos estudá-los. Precisamos saber o que é normal e anormal na nossa população e não apenas transpor dados de outros centros.

Aprendi novamente que bons laudos exigem o desenvolvimento de outras habilidades. O estudo regular e com disciplina é essencial, é o alicerce, mas não é suficiente. Vivenciar outros centros e ver o maior número possível de casos também ajuda. Mas a radiologia tem um quê de arte, de feeling, às vezes nos vêm um diagnóstico a mente por conexões nem sempre tão claras.

Atividades culturais, que envolvem arte, música, dança, atividades ao ar livre e boas interações sociais estimulam outras habilidades que indiretamente influenciam na forma como desempenhamos nosso trabalho. Talvez essa seja uma das facetas mais incríveis do Projeto Diventerò. Pude viajar para diferentes cidades e, entre museus, monumentos, lindas paisagens e deliciosos pratos, fiz grandes amigos. Eduardo Agapito, Priscila Henriques, Hugo Tames, Lucas de Pádua e amigos italianos e de outras nacionalidades trouxeram ainda mais cor para a primavera italiana. Finalmente, pude mais uma vez relembrar a importância de se buscar o equilíbrio entre trabalho e lazer como forma de garantir fôlego e clareza na minha trajetória profissional.

Que valor dá para tal experiência?

Com o Eduardo, no hospital

Acredito que as experiências de vida valem a pena se voltamos diferentes delas, se de alguma forma elas nos mudam. Certamente não sou a mesma radiologista de antes, nem a mesma pessoa. Pude adquirir experiência e maior confiança em uma área que sempre considerei bastante desafiadora da neurorradiologia.

Além disso, também pude sair da minha zona de conforto, ao praticar outras línguas, conhecer outras formas de trabalhar, ver outros padrões de laudo, conhecer profissionais de diferentes nacionalidades, e interagir em um ambiente profissional e acadêmico diverso.

Tudo o que nos tira da rotina exige um esforço que nos faz desenvolver diferentes habilidades e evoluir profissional e pessoalmente. Agradeço muito à Fundação Bracco e à Sociedade Paulista de Radiologia por essa incrível oportunidade.

Aos colegas que pensam em se inscrever no Diventerò, quais seus conselhos?

Time Diventerò 2024

Se joguem!

Acredito que o projeto vem cada vez mais tomando um cunho acadêmico-científico-cultural.

Dessa forma, àqueles que têm interesse, sugiro que se envolvam desde cedo em atividades científicas e desfrutem das diversas oportunidades acadêmicas, culturais e de pesquisa oferecidas pela Sociedade Paulista de Radiologia e pela Fundação Bracco.