O Progetto Diventerò acompanha jovens de talento para um estágio em Diagnóstico por Imagem de seis semanas na Itália. A iniciativa resultante da parceria entre a SPR e a Fundação Bracco.
Na edição 2023/2024, um dos contemplados foi o Dr. Lucas de Pádua Gomes de Farias. Ele cumpriu seu fellowship em Milão, e conta detalhes aqui. Confira!
Em que serviço/cidade você ficou?
Centro Cardiologico Monzino IRCCS, que faz parte do Instituto Europeo di Oncologia, em Milão, na região da Lombardia, no norte da Itália.
Quem era o médico responsável pela equipe em que atuou? Como era a equipe e a rotina de trabalho?
O médico responsável era o Prof. Dr. Gianluca Pontone, especialista em cardiologia e radiologia, e diretor do Departamento de Imagem Cardiovascular do Monzino.
Por ser referência na Itália em cardiologia e imagem cardiovascular, o hospital é dedicado ao atendimento dos pacientes em seguimento cardiológico que são oriundos de todas as regiões italianas.
A equipe é composta de radiologistas e cardiologistas que atuam em imagem cardíaca, e que se dividem na realização de ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, principalmente do coração, artérias coronárias, e relacionadas a procedimentos vasculares. Por ser um hospital, que eventualmente tem a demanda de exames extra cardiovasculares, os médicos radiologistas suprem essa demanda no acompanhamento dos exames e realizam os laudos.
A rotina de trabalho é baseada na carga horária que os médicos são contratados, cerca de 30-36 horas/semana, a maioria em dedicação exclusiva, alguns também com atuação em universidades locais. Os diferentes métodos de imagem têm cargas horárias diferentes, que variam em cerca de 6 a 11 horas por dia, sendo a ultrassonografia a mais tranquila e a ressonância magnética a mais extensa.
O que o admirou no trabalho lá desenvolvido?
O que mais me admirou no trabalho desenvolvido foram aparelhos de TC e RM dedicados exclusivamente para a realização de exames cardiológicos, com equipe de biomédicos e enfermagem altamente treinados diante os protocolos, o que deixa a rotina mais fluida.
Outro ponto é o tempo dedicado para a análise das imagens e confecção do laudo. Por ter um menor volume de exames, os médicos conseguem ter mais tempo para avaliação das imagens, correção com os médicos residentes e discussão com os médicos solicitantes.
Ainda neste aspecto, destacam-se os protocolos de pesquisa. Cada solicitação médica é avaliada dentro de protocolo de pesquisa, já durante a entrevista do paciente antes de iniciar o exame, propriamente dito. Esses dados podem ser utilizados de imediato, ou para análise futura.
Quais diferenças identificou na Radiologia praticada no Brasil e na Itália?
Em termos técnicos, o trabalho assistencial desenvolvido lá não difere muito do que estou acostumado a praticar aqui nos hospitais nos quais trabalho. Em alguns aspectos fazemos mais, outros menos, e vice-versa.
As diferenças relacionadas ao Brasil são principalmente à relação pesquisa – assistência ao paciente. Isto está ligado o tempo inteiro nas atividades lá desenvolvidas.
E o tempo de trabalho. Lá se tem uma menor carga horária de trabalho, e os médicos têm um maior reconhecimento da importância disto na vida deles quando comparado aos médicos brasileiros.
O que destaca como principais aprendizados, tanto cientificamente quanto de vivência, rotina?
Sobre o aprendizado técnico, a oportunidade de presenciar como um instituto de referência europeu funciona foi de grande valia. Desde os exames que já dominados aqui no Brasil, até aqueles que são menos frequentemente realizados. Possibilidade de perceber quais as demandas dos médicos solicitantes, e dos radiologistas / cardiologistas durante a realização dos exames e confecção dos laudos. Inclusive dando a minha opinião, quando solicitado. Desta mesma forma, fui incluído nas diversas reuniões com as equipes hospitalares, o que me fez sentir, realmente, parte da equipe, mesmo que durante um curto período de tempo. O acolhimento praticado por eles perante minha participação foi admirável.
No que se refere à vivência, passar por todas estas etapas em Milão é o que mais me desperta a sensação de que consegui viver o projeto na sua essência. Dentro do hospital, com colegas, assistentes e residentes, com suas particularidades de cada região italiana que fazem uma verdadeira composição à milanesa. E também fora do hospital, sejam nas atividades cotidianas, como no caminho para o hospital e no retorno para casa, como também nos finais de semana quando todos os “Diventerò’s” se juntavam para novas experiências em diversas cidades italianas, aprimorando a essência cultural do projeto.
Destaco o incentivo em aprender a língua italiana. Tive a oportunidade de fazer aulas antes de viajar, e passar por um intensivo de prática nesses quase 2 meses, no qual o inglês (muitas vezes considerado indispensável) foi brevemente esquecido, dando a oportunidade de compreender e ser compreendido como um local, recebendo o apoio de todos, mesmo diante das dificuldades de quem acabou de iniciar o aprendizado de um novo idioma. Sem falar da culinária, inclusive o respeito italiano por ela, que é um destaque à parte.
Que valor dá para tal experiência?
A experiência foi umas das mais gratificantes na minha vida acadêmica e profissional, e também pessoal. Volto um radiologista diferente daquele que embarcou neste projeto, mais preparado para caminhar junto dos desafios da imagem cardiovascular que tem passado por avanços e revoluções nas últimas décadas. O projeto me permitiu ser mais confiante, profissionalmente e culturalmente.
Aos colegas que pensam em se inscrever no Diventerò, quais seus conselhos?
Indico esta oportunidade a todos os jovens radiologistas que manifestem o desejo dessa experiência na Itália. É um período de intercâmbio técnico, pessoal e cultural inigualável.