JPR 2023

Palestrantes nacionais e internacionais abordam acesso à radiologia e IA

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Fotos: Carol Cassiano

Veja as fotos da JPR 2023:

 

A RSNA possui o programa “Construindo Conexões nas Américas: Abordando o Acesso à Radiologia”, que tem como objetivo cultivar parcerias globais e melhorar a equidade em saúde, acesso, segurança e atendimento aos pacientes das Américas do Sul, Central e do Norte. Realizado em três fases, a última aconteceu durante a JPR 2023, com uma programação científica em dois dias do evento.

Para o Dr. Umar Mahmood, diretor de relações internacionais da RSNA, a parceria entre a SPR e a sociedade norte-americana é fundamental para o crescimento da área: “Essa união eleva o grau científico, de conhecimento e de educação para um nível que você não atinge sozinho – é fundamental para quem somos como área. Além disso, podemos pensar em como aumentar o acesso dos nossos pacientes por todas as Américas, e por todos os países, e compartilhar as melhores práticas para melhorar essa questão”.

Na parte da manhã da quinta-feira, 27 de abril, foi realizado o primeiro bloco de aulas. Moderado pelos Drs. Cesar Nomura e Carolina Souza, a primeira aula foi do Dr. Marcos Roberto de Menezes, sobre assistência para comunidades ribeirinhas e Yanomami na Amazônia.

“O progresso tecnológico tem colocado máquinas, dinheiro e gestores entre profissionais e pacientes, com perda de humanidade no sistema” foi uma das declarações do radiologista, que participa de ações para levar medicina à população mais afastada dos grandes centros. A correria do dia a dia faz com que os médicos percam a sua essência, que é a de ser cuidador – com essa ajuda aos indígenas, por exemplo, isso é retomado, pois é possível sentir a gratidão das pessoas.

Dr. Marcos enfatizou a medicina de culturalidade, em que se tem uma prática e organização de serviços de saúde baseadas na comunidade. Dessa forma, a dimensão cultural de cada ser humano passa a ser tão importante quanto a sua autonomia: “Com os Yanomami, a medicina precisa ser assistida. Se deixarmos medicação nas mãos deles, a questão cultural corta todo o sentido e eles não utilizam da forma correta”, exemplifica.

Outra dificuldade é a de levar o diagnóstico por imagem para as áreas remotas – o Dr. John Scheel, dos Estados Unidos, trouxe sua experiência para mostrar como fazer. Para que seja possível, é preciso identificar a necessidade, se planejar e implementar. A partir disso, é necessária uma monitoração que seja capaz de alterar as ferramentas de acordo com as demandas observadas. “A experiência do paciente deve passar pela emoção e percepção, fundamentais para que o acompanhamento seja realizado da melhor maneira”, pontua.

O Dr. Christian Pérez Núñez, do Chile, trouxe a percepção das áreas rurais e começou mostrando pequenas cidades chilenas que possuíam singelos hospitais que, muitas vezes, nem contavam com o serviço de exames de imagem. Uma das questões abordadas foi “faltam radiologistas?”, mas ele mostrou dados que comprovam um aumento significado do número de profissionais desde 2006. Sendo assim, o déficit está na comunicação entre radiologistas e a saúde pública.

“Somente radiologistas entendem muito bem de radiologia. Nós temos que focar nas políticas públicas, e os políticos precisam nos ouvir. Por exemplo, foi publicado no Diário Oficial que mulheres poderiam fazer mamografia sem pedido médico, portanto, surgiram vários problemas logo na primeira semana, pois nós não fomos chamados para a elaboração dessa lei”, finaliza Dr. Christian.

Para o participante Rodrigo Morais, gestor da Sanclin Imagem e Diagnósticos Santarém, do Pará, toda a questão da dificuldade do acesso é sentida no cotidiano, e entender os processos com os profissionais é essencial: “Nós, que já rodamos várias localidades, mas estamos atualmente no norte, percebemos o quão importante é o voluntarismo hoje em dia para comunidades mais distantes, ribeirinhas, e que a gente convive no dia a dia. O que presenciamos aqui foi enriquecedor para a prática do nosso trabalho”.

Outra questão que engloba a prática dos profissionais é a proteção radiológica, e o Dr. Alejandro Nader, do Uruguai, trouxe a aula “Programa Regional da Agência Internacional de Energia Anatômica sobre Proteção Radiológica em Medicina”. Ele frisou que os médicos são um dos mais atingidos pela exposição artificial e que os projetos de diminuição de dose não são para causas danos, mas sim para achar o equilíbrio apropriado.

“Hoje, temos muitos procedimentos desnecessários, exames que não são justificados e que não contribui com o benefício do paciente. Deve-se ter em mente que a qualidade da imagem deve ser o suficiente para o diagnóstico, nem menos, nem mais”, conclui. O Dr. Alejandro relembra que todos os materiais promovidos pela Agência Internacional de Energia Atômica estão disponíveis gratuitamente em espanhol e inglês.

Para a Dr. Irene Nakano, professora no Instituto Federal do Paraná e professora no Complexo do Hospital das Clínicas da UFPR, visualizar o olhar humanitário dos profissionais e suas experiências, principalmente com as questões indígenas, foi fundamental, já que é um ponto tão presente no Brasil. Além disso, afirmou que os projetos da ATEA são fundamentais para o melhoramento no cotidiano da radiologia.

“Eles conseguem captar algumas informações, algumas tendências, nacionais e internacionais, e compartilham com a comunidade. Como nós trabalhamos com radiação ionizante em alguns métodos, é muito interessante estarmos alinhados com alguns conhecimentos e cuidados, principalmente com os pacientes”, pontua.

 

Parceria e colaboração: a melhora da prática radiológica

Dra. Carolina Souza fala sobre mentorias

O período da tarde, moderado pelos Drs. Umar e Renato Adam Mendonça, começou com a aula da Dra. Carolina Souza, que trouxe orientações para alcance internacional. Tendo como base as mentorias, principal recurso educacional para se estabelecer, ela pontua as três dicas para o sucesso: estabelecimento de metas, de necessidades educativas e dos principais tópicos de interesse.

Dessa forma, é possível estabelecer também os obstáculos, que normalmente surgem em torno de recursos limitados, acesso variável ao conhecimento e serviços, e diferenças econômicas e culturais: “Nós queremos aprimorar o comportamento da sociedade, e não alterar drasticamente. Então é importante uma discussão colaborativa com as instituições, para que haja um programa estruturado e sustentabilidade”.

Pensando em colaboração, Dr. Cesar Nomura apresentou o RadVid-19, plataforma criada na época da pandemia, para detecção da covid-19 a partir de inteligência artificial. Radiologistas de todo o Brasil criaram um banco de dados com exames de raio x e tomografia de tórax, que foram organizados e classificados para o desenvolvimento do algoritmo. A plataforma ficou aberta para todos os profissionais da área, o que contribuiu para positivamente para os pacientes.

Para finalizar o dia, o Dr. Felipe Kitamura pegou o gancho sobre inteligência artificial e apresentou como a colaboração pode impulsionar o conhecimento. Ele afirmou que para um algoritmo ser colocado em prática, pesquisadores do mundo inteiro precisam chegar a uma conclusão, o que configura um acesso burocrático, com diversas etapas.

Com isso, serão cada vez mais comuns competições de análise de imagens, como tivemos o Desafio de IA da SPR. Entretanto, é preciso pensar nas suas limitações, como a não substituição da pesquisa tradicional, o fato de nem sempre funcionar bem para todo mundo e a reprodutibilidade, que também pode não dar os mesmos resultados em diferentes instituições: “Apesar disso, a minha recomendação é que entrem de cabeça, assumam o risco e faça experimentos. Compartilhar dificuldades e aprender com outros participantes fazem parte do processo”, finaliza.