Um dos assuntos de destaque do primeiro dia da 6ª Jornada de Radiologia Intervencionista da JPR 2024 foi a evolução das tecnologias de ablação. Em sua aula, a médica radiologista intervencionista Dra. Priscila Henriques da Silva, preceptora da Residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) falou sobre as tecnologias ablativas que temos disponíveis hoje: radiofrequência, microondas, crioablação, eletroporação irreversível e eletroquimioterapia.
A radiofrequência, surgida nos anos 1990, é a tecnologia de ablação mais difundida, com adoção crescente no Brasil, em especial nos últimos 15 anos. Ela ocorre por meio de uma ablação térmica, na qual se queima o tumor em temperatura acima de 50 graus, para matar o tumor por necrose coagulativa, mas sem ultrapassar o limite de 100 graus. É indicado, principalmente, para casos selecionados de pacientes com hepatocarcinoma (câncer de fígado), nódulos pulmonares, renais e de tireoide, tumores malignos de tireoide e miomas uterinos. “Quando os pacientes são bem selecionados, com doença localizada, a radiofrequência é adotada com intenção curativa, não paliativa”, ressalta Priscila.
Na ablação por micro-ondas, assim como a radiofrequência, também se induz uma lesão térmica no tumor. Isso é feito por meio de um gerador, que produz um campo magnético. E esse aumento da temperatura no tecido também causa necrose coagulativa. Comparativamente, na radiofrequência há o aquecimento de tecidos em contato ou muito próximos da ponta ativa, enquanto na ablação por micro-ondas, o tecido circunjacente é aquecido ativamente e simultaneamente, com distribuição homogênea. “Nela, a ablação é possível mesmo perto de vasos. E ocorre necrose coagulativa homogênea mesmo em tecidos heterogêneos”, explica Dra. Priscila.
Entre as vantagens, menor tempo de procedimento, menor uso de sedativos, maior área ablada, uso de soro fisiológico para hidrodissecção e maior previsibilidade da área de ablação. As principais indicações são para casos selecionados de tumores malignos de fígado, câncer de rim e pulmão; osteoma osteoide, tumores suprarrenais, linfonodos, tumores ósseos e mamários, mioma, tireoide e paratireoide.
Na crioblação, o calor é substituído pelo esfriamento. É adotado por meio de baixas temperaturas, em ciclo de congelamento e descongelamento, utilizando-se argônio. Nesta tecnologia, o gás é comprimido (com ponto de ebulição de -186ºC), com a ponta da agulha sendo resfriada e gerando uma bola de gelo. Ela causa a morte celular por meio da ruptura da membrana celular, dano microvascular, ativação de apoptose por processos imunobiológicos (fagocitose) e descongelamento.
Entre as vantagens, melhor controle e planejamento da área ablada e das margens de segurança; menor lesão de tecidos adjacentes, menos dor e possibilidade de repetir. Entre as indicações, casos selecionados de metástases ósseas, tumor desmoide, câncer de pulmão e endometriose. Também estão em andamento estudos clínicos, com uso da tecnologia, para câncer de fígado, próstata, rim, pele e mama.
Outra tecnologia é a eletroporação irreversível, pela qual se mata todas as células contempladas na região ablada, preservando as estruturas da matriz extracelular, preserva vasos, vias biliares, intestino e sistema coletor. É indicado para casos selecionados de lesões hepáticas primárias e secundárias de localização central, carcinoma pancreático localmente avançado, tumores renais de localização central e tumores de próstata.
“A eletroporação irreversível é mais uma opção no arsenal de radiologia intervencionista. Não usa energia térmica e é uma opção para casos não operáveis e não candidatos à terapias ablativas térmicas. Por meio dela, há uma customização da zona ablada, feita com segurança, próxima aos vasos e vias biliares”, explica Priscila.
Por fim, não menos importante, a opção pela eletroporação reversível, que funciona de maneira semelhante à eletroporação, adicionando injeção de substância. É feita e entrega de pulsos elétricos curtos e de alta voltagem. Há maior concentração de substância citotóxicas. Em seus mecanismos de ação, aumenta a contração intracelular, causa vasoconstrição e induz resposta imune. É aplicada para casos selecionados de malignidade da pele e subcutâneo, incluindo melanoma, metástase e lesões sangrantes. Há estudos que investigam o seu papel em tumores de cabeça e pescoço, fígado e pâncreas, assim como para metástases ósseas dolorosas.
Em relação a qual método escolher, Dra. Priscila Henriques da Silva explica que a ablação ideal é aquela, cuja tecnologia, está disponível, os profissionais médicos e operadores tenham domínio da técnica selecionada, que se leve em conta a biologia da doença e que, junto a todos esses critérios, haja a correta seleção do paciente. A ablação ideal, portanto, é aquela que está disponível, executável com segurança e indicada para o paciente certo.