Por Lucy Tamborino
Fotos ASA 400 Studio
Coordenada pelos Drs. César Higa Nomura, Conrado Furtado de Albuquerque Cavalcanti, Renato Adam Mendonça e Renato Hoffmann Nunes, a sessão de Profissionalismo e Gestão da JPR 2025 teve início na manhã da quinta-feira, 01.
A primeira parte do módulo foi conduzida pelo CBR – ABCDI. Para fortalecer a fiscalização e garantir o anonimato, o CBR Clínicas lançou um novo canal de denúncias. A instituição também defende a categoria radiológica por meio de ações civis públicas e se posiciona como defensora contra os abusos das operadoras de saúde, que se recusarem a cumprir o que a lei e as regulações da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinam.
Entre os exemplos citados de denúncia estão:
- Tabelas de exames excludentes, contrariando a Resolução do CFM nº 1.627/2001;
- Obrigatoriedade das operadoras de seguir o padrão TISS (RN 501);
- Cláusulas abusivas dos contratos, como deduzir o percentual de aumento do custo assistencial médio de um ano para o outro;
- Data de reajuste no aniversário do contrato – o reajuste deve ser aplicado anualmente da data de aniversário do contrato e não 12 meses a partir do último reajuste.
“Estes são alguns exemplos de denúncias que podem ser consideradas ‘fáceis’, mas temos interesse. Denunciem. A estratégia é iniciar com o canal de denúncias regionalmente e consolidar nacionalmente”, explicou Carlos Eduardo Ferreira.
Dando sequência à sessão, Valério Augusto Ribeiro, Assessor Jurídico do CBR, destacou a atuação da Comissão de Defesa do Profissional, que atua com médicos e instituições como clínicas médicas, hospitais e serviços de diagnóstico por imagem.
O profissional apresentou diversas ações civis públicas emblemáticas que demonstraram o poder de atuação da CBR e a obtenção de decisões favoráveis na prevenção de abusos contra a categoria. Um exemplo notável foi o caso da médica que, ao gravar vídeos negando a existência do câncer de mama, contrariou evidências científicas.
“A Comissão de Defesa do Profissional tem interesse nas prerrogativas profissionais dos honorários dos médicos radiologistas; ela se apresenta como um mecanismo eficiente de proteção”, analisou.
Abramed: o papel da inovação e sustentabilidade na Saúde
A Saúde, apesar de sua importância estratégica, não internalizou os ganhos de escala observados em outros setores, como industrialização e democratização, e atua de forma ‘artesanal’. É o que apontou Bruno Matos Porto, sócio-líder do setor de Saúde na PwC Brasil, dando sequência às apresentações.
De acordo com ele, essa transformação tecnológica parte da necessidade de atuar com uma equação complexa: “escala = redução de custos + acesso”. Novas tecnologias devem avançar para que, de fato, a inovação seja útil. Ele menciona, de maneira geral, tendências como a robotização de serviços e o hospital do futuro.
Tendências de tecnologia e cultura na radiologia, conforme o palestrante:
- Integração da IA (detecção de padrões, priorização, redução de erros, automação de tarefas repetitivas);
- Radiologia mais clínica (planejamento terapêutico, multidisciplinariedade);
- Tecnologia de imagem cada vez mais avançada (novas tecnologias menos invasivas, ênfase mais forte em prevenção/predição e screening versus pertinência).
Para liderar no setor de Saúde, será essencial adotar modelos ágeis e tecnologias como a inteligência artificial, com foco em eficiência, acesso e inovação.
CEOs devem repensar prioridades, investir em talentos e desenvolver soluções voltadas à saúde preventiva, digital e sustentável – superando o modelo artesanal.
Diagnóstico por imagem: boas práticas, desafios e sustentabilidade
No painel, diversos especialistas chamaram a atenção para os desafios e responsabilidades de inovar. Entre eles, atuar com responsabilidade no uso da inteligência artificial na saúde.
Dr. Edgar Rizzatti, Presidente da Unidade de Negócios Médico-Técnico de Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury, destacou que a inovação não deve ser encarada como um custo, mas sim como um gerador de valor — clínico, assistencial, operacional e econômico.
A inteligência artificial seria um “segundo par de olhos”, capaz de evitar a repetição desnecessária de exames e prever condições adversas, por exemplo.
Dr. Marcelo Abreu, médico radiologista e preceptor do SIR/Hospital Mãe de Deus, fez uma crítica ao uso indiscriminado de tecnologias sem a devida base regulatória e científica. “Na pandemia, teve muita liberação e as empresas avançaram muito — a gente não segurou a mão. Hoje, muitas inteligências artificiais não passariam numa auditoria rigorosa”, argumenta. E completa: “Um negócio sem regulação não é um negócio”.
Antonio Fernando Lins de Paiva, especialista em Radiologia Torácica pelo Instituto do Coração (InCor), reforçou que a formação das equipes é essencial para mapear processos e falhas. A capacitação dos profissionais é um fator-chave para garantir o uso seguro e eficaz das novas tecnologias.
Em sua participação, Dr. Cesar Higa Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, compartilhou uma visita recente à China – uma unidade de saúde chega a realizar cerca de 6 mil exames por dia, com uma média de 300 exames por máquina. Por fim, alertou para os entraves da saúde pública no Brasil: “O sistema é subfinanciado. É muito difícil fazer gestão nesse cenário”.
ICOS: como equilibrar o custo da inovação na prática?
Promovido pelo Instituto Coalizão Saúde (ICOS), o debate que fechou o módulo na quinta-feira tratou sobre o futuro do sistema de saúde. Especialistas discutiram a necessidade de equilibrar custos, tecnologia e satisfação do paciente – sem ignorar a dinâmica da indústria com os desafios específicos da saúde.
A sessão contou com a participação do Dr. César Nomura; Dr. Conrado Cavalcante, Diretor Médico da Amil; Rafael Latini, Gerente de Negócios Estruturados CASSI; e Manuel Coelho Filho, Executivo de Marketing Estratégico Siemens. O momento foi moderado por Denise Eloi, CEO da ICOS.
“A tecnologia pode trazer custo mais alto, mas é preciso analisar o valor: qual o benefício que ela pode trazer para o bem-estar do paciente e a relação custo/efetividade?”, analisou Manuel Coelho Filho.
A importância da avaliação do cliente e da qualidade dos serviços foi tema constante, com um chamado para diferenciar prestadores com base em resultados, contra a valorização por modelos como fee for service.
A sustentabilidade financeira e assistencial foi apontada como um desafio, com a sugestão de integrar os setores público e privado para ampliar o acesso e otimizar o sistema. A necessidade de um ambiente colaborativo e construtivo para enfrentar os desafios da saúde no Brasil foi um ponto central.