Por Lucy Tamborino
Fotos ASA 400 Studio
Dando sequência à programação, a sessão de Profissionalismo e Gestão da JPR 2025 se estendeu pela sexta-feira (02). Conhecida tradicionalmente por discutir os temas mais atuais da radiologia, a sessão apresentou a necessidade de um radiologista empático e necessário para o paciente, sustentabilidade, qualidade e segurança no diagnóstico. Confira os destaques!
Como estabelecer gestão de tecnologia e empatia no diagnóstico?
Abrindo o módulo, a JPR 2025 recebeu Magali Hovsepian, coordenadora do CAP SAR “Calidad y Seguridad del Paciente” e Diretora Médica de TCba Centro de Diagnóstico, Bs As Argentina.
Ela destacou a importância de um cuidado de saúde que coloque o paciente no centro e defendeu ações como comunicação efetiva, educação do paciente, além de conforto físico e conexão emocional (possível pela observação de valores, preferências e necessidades cuidado da família).
Isso geraria melhorias na qualidade dos processos com maior segurança para o paciente; redução de custo; melhores resultados de diagnóstico/tratamento e aumento na satisfação dos pacientes e médicos solicitantes. Entre os artigos citados para embasar a aula, está Communication and empathy skills: Essential requisites for patient-centered radiology care.
Já Marcos Roberto Gomes de Queiroz, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein, abordou a necessidade de se manter atualizado e “ir contra o atendimento massificado”. O radiologista deve ser protagonista: não se esconder, tomar risco e se apresentar necessário.
A tecnologia também desempenha um papel crucial nesse cenário, como explorou Roberto Caldeira Cury, Vice-presidente de Unidades de Atendimento e Experiência do Cliente – Dasa. Ele ponderou sobre os principais papéis da tecnologia no setor: crescimento e eficiência, digitalização, engajamento médico, tratamento antecipado e experiência do paciente.
PADI: “precisamos eliminar essa visão maniqueísta”
Mais de 1 milhão de exames são gerados por mês nos serviços certificados pelo PADI, demonstrando a relevância nacional da iniciativa na qualidade e segurança na radiologia. São avaliados temas como a clareza, cobertura anatômica correta, contraste tecidual adequado, título do exame, lado identificado nas imagens, entre outros.
Nem sempre os erros mais complexos são únicos e esperados. “Garantir a qualidade dos exames é mais do que corrigir erros – é valorizar a vida por meio da precisão, da ética e do compromisso com a excelência”, explica Ruy Moraes Machado Guimarães, coordenador da comissão de acreditação do PADI.
Bruno Aragão Rocha, coordenador da comissão de inovação e telerradiologia do CBR, se propôs a analisar os casos de aplicações de inteligência artificial para melhorar a segurança do paciente – explorando as principais potencialidades e riscos: “Precisamos eliminar essa visão maniqueísta, entre uma IA como vilã ou aliada – é muito mais complexo”.
Adriano Tashibana, coordenador do CADI/PADI do CBR, discutiu como os líderes querem conduzir o ambiente e os negócios. Para ele, a valorização da equipe é fundamental para resultados, chegando inclusive a mencionar um case na área – “How Alcoa quintupled their revenue by focusing on worker safety”.
Qualidade diagnóstica em foco: do ROI à prevenção de erros e o papel da IA
Com uma visão crítica sobre o tema, Anderson Mattozinhos de Castro, Auditor Líder Padi, refletiu sobre o ROI na saúde – a relação entre o lucro líquido e o custo do investimento.
Para ele, a metodologia tem limitações, como não considerar a duração dos investimentos, custos de oportunidade, riscos, sazonalidade e fatores externos.
“Precisamos refletir sobre o limite dos cortes de custos. Nossa operação não comporta mais enxugamento sem ferir pessoas e comprometer a segurança do diagnóstico”, criticou.
Para ele, o caminho da transformação passa pelo radiologista entregar e comunicar valor – envolver-se com o paciente e médico solicitante e fugir da atuação reducionista de agir apenas como ‘laudador’. Também é preciso não ceder à pressão de trabalhar por qualquer preço, aceitar fazer sem receber e não renunciar à qualidade para reduzir custos.
Já Augusto Braga Fernandes Antunes, Coordenador Médico do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Inovação Alliança, e Diretor de Comunicação do CBR, mencionou um estudo que apontou que os erros no laudos na radiologia de 60% a 80% eram de percepção.
Apesar do potencial, a IA deve ser usada com cautela para análise do laudo. “A maioria das soluções não cumprem o prometido em termos de acurácia. Funcionam bem nos datasets em que foram desenvolvidas, mas falham ao serem aplicadas em outros”, observou.
O profissional trouxe diversos artigos, como o External Validation of Deep Learning Algorithms for Radiologic Diagnosis: A Systematic Review, e sugere entender o papel do radiologista e como se posicionar.
Aline Morião, membro da comissão de acreditação em diagnóstico por imagem do CBR e major da Força Aérea Brasileira, tratou da prevenção de erros humanos na radiologia. Abordou estratégias como ouvir o paciente e familiar; pausas diagnósticas; diagnósticos diferenciais; segunda opinião; suporte à decisão diagnóstica como IA; prontuário e contato com quem solicitou o exame.
Fechando a sessão, Ruy Moraes Machado Guimarães, abordou a sustentabilidade na radiologia. Ele criticou a prescrição excessiva de exames de baixo valor, que representam desperdício e a exposição desnecessária à radiação.
A solução proposta, para ele, envolve a criação de uma “Carteira Nacional de Prescrição” com penalidades para exames mal prescritos e maior transparência sobre a radiação em publicações científicas.