No artigo intitulado “De que lado devem estar os Médicos”, o Dr. Luiz Karpovas, então presidente do CBR, discutiu a preocupante situação da classe médica no Brasil. Ele apontou que a categoria enfrentava pressões externas vindas de setores ligados ao governo em diferentes níveis. Essas influências ameaçavam a dignidade profissional e a qualidade da prática médica.
O médico observou que havia uma tentativa de desvalorizar a classe por meio da introdução de critérios simplistas de avaliação de desempenho e remuneração, afetando diretamente especialidades como a radiologia e a cirurgia, que lidavam com diagnósticos precisos e atividades complexas. Esse cenário resultava em uma constante pressão sobre os médicos para se adaptarem às novas realidades desfavoráveis.
Ele também abordou o problema da divisão interna entre os médicos, especialmente entre aqueles que atuavam no Sistema de Assistência Diagnóstica e Terapêutica (SADT) e os demais. Segundo o autor, essa divisão, alimentada por interesses alheios à profissão, enfraquecia a unidade da classe e prejudicava a defesa dos interesses comuns dos médicos.
Além disso, o texto mencionava o impasse entre a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FENASEG) sobre a implantação da Tabela 92, que regulamentava os honorários médicos. O acordo, que inicialmente fora aceito pela AMB, foi posteriormente contestado, levando a um longo período de incerteza e disputa entre os setores envolvidos.
Dr. Karpovas concluiu que, diante dessa situação, era essencial que a classe médica se unisse em torno de seus valores e objetivos comuns, defendendo sua dignidade e se posicionando firmemente contra as tentativas de desvalorização profissional. Ele alertava que, se não tomassem uma posição clara e firme, isso poderia ter consequências negativas não apenas para os médicos, mas também para a qualidade do atendimento à população.
Evolução da ultrassonografia e os desafios da formação médica
Em seu artigo, Dr. Ayrton Pastore discutiu o crescimento da ultrassonografia como uma das modalidades diagnósticas mais populares e valorizadas na medicina da época. Segundo ele, a ultrassonografia se tornou uma nova especialidade, atraindo a atenção de diversos médicos e se consolidando como uma ferramenta indispensável na prática médica.
Ao mesmo tempo em que essa tecnologia evoluiu, surgiram também especuladores na medicina, que focavam mais nos benefícios financeiros da especialidade do que na qualidade do atendimento ao paciente. Esse fenômeno gerou uma especialização médica baseada mais na facilidade de operar os equipamentos e nos baixos investimentos necessários do que no verdadeiro conhecimento clínico.
Dr. Pastore observou que o sistema educacional do Brasil estava em falha ao não proporcionar uma formação completa e de qualidade para os médicos, especialmente nas áreas que exigiam mais habilidades práticas, como as cirurgias. Muitos recém-formados se encontravam desiludidos com a carreira médica, tanto por conta das dificuldades financeiras, quanto pela falta de oportunidades de crescimento e especialização.
Essa situação resultava em médicos mal preparados, que dependiam da ultrassonografia sem realmente compreenderem a fundo suas limitações e aplicações clínicas. Dr. Pastore fez um apelo para que a AMB e outras entidades médicas tomassem providências para melhorar o ensino, para que a ultrassonografia não se tornasse uma “muleta” para profissionais despreparados. Ele enfatizou que a valorização da especialidade deveria estar ligada à competência e à formação de qualidade, e não apenas ao interesse financeiro.
Inovação na radioterapia para câncer de cabeça e pescoço
Durante a 24ª Jornada Paulista de Radiologia, o Dr. C.C. Wang, diretor clínico de radioterapia do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, apresentou um novo esquema de tratamento para pacientes com tumores avançados, especialmente aqueles com câncer de cabeça e pescoço. Esse método consistia em submeter os pacientes a duas sessões de radioterapia por dia, ao invés do método tradicional de uma sessão diária.
Dr. Wang destacou que, ao longo de quinze anos de desenvolvimento e aperfeiçoamento dessa técnica, foi possível reduzir o tempo total de tratamento de seis semanas para três semanas e meia, mantendo a mesma eficácia. O novo método também permitiu uma redução significativa dos efeitos colaterais associados ao tratamento convencional, comparável aos resultados da quimioterapia.
No entanto, o novo protocolo exigia uma maior capacidade dos equipamentos e infraestrutura, com uma dificuldade prática notável devido ao tempo necessário para tratar os pacientes. Isso tornava o método mais desafiador em termos de administração e logística.
Apesar disso, Dr. Wang relatou que os resultados do novo esquema de radioterapia foram promissores, com cerca de 85% dos pacientes atingindo uma taxa de controle da doença significativamente melhor. Ele concluiu que, embora o método exigisse maior empenho, tanto em termos de equipamentos, quanto de organização do tratamento, os benefícios superavam as dificuldades ao proporcionar uma esperança renovada para pacientes com tumores avançados.