No início dos anos 90, a área da radiologia ainda lidava com desafios resultantes da falta de regulamentação no passado. Na década de 1940, muitos serviços funcionavam de forma precária, semelhante à época da descoberta dos raios X. Equipamentos operavam sem qualquer tipo de proteção, e os técnicos ficavam expostos à radiação de maneira constante. Tubos de raios X eram instalados sem blindagem e procedimentos como radioscopia eram realizados em ambientes inadequados, sem qualquer preocupação com a segurança dos profissionais.
Com o passar do tempo, os efeitos prejudiciais da exposição excessiva à radiação se tornaram evidentes. Casos de câncer e leucemia entre profissionais da área levantaram preocupações, levando à criação de normas para limitar a carga horária dos técnicos e garantir melhores condições de trabalho. A legislação passou a exigir blindagens em equipamentos e ambientes, além da obrigatoriedade do monitoramento pessoal da radiação absorvida pelos profissionais.
Entretanto, a aplicação dessas normas gerou dificuldades. A regulamentação impedia que os técnicos trabalhassem mais de 24 horas semanais, com uma tolerância de apenas 2 horas extras diárias. Isso fez com que muitos precisassem acumular empregos em diferentes locais para complementar a renda, enfrentando longos deslocamentos e horários exaustivos. A insatisfação com essas restrições gerou discussões dentro da categoria, levando a pedidos de revisão da legislação.
Na época, o Dr. Cassio Ruas de Morais, autor do artigo publicado no Jornal da Imagem em fevereiro de 1995, defendia que a solução não estaria na simples ampliação da jornada, mas sim na busca por melhores condições salariais e na adequação das normas às necessidades dos profissionais e das instituições de saúde.
A comunicação entre cirurgiões e radiologistas
No 12º Curso de Diagnóstico por Imagem (Dr. Feres Secaf), o Dr. Yoram Ben-Menachem veio ao Brasil para compartilhar sua experiência na área de traumatologia e emergências. Suas conferências tiveram como objetivo orientar novos radiologistas sobre a importância da integração com cirurgiões no atendimento a pacientes em situações críticas. Ele destacou que, em emergências, era essencial que o radiologista estivesse disponível 24 horas por dia.
O Dr. Ben-Menachem ressaltou que, no tratamento de traumas, o conhecimento do histórico do paciente é tão importante quanto a análise dos exames. Ele explicou que os diagnósticos precisam ser feitos em menos de uma hora, sob grande pressão, exigindo precisão e rapidez dos profissionais.
O avanço da tecnologia trouxe equipamentos inovadores, como a tomografia computadorizada e a angiografia, que passaram a ter um papel fundamental no atendimento a pacientes traumatizados. Segundo ele, em 90% dos casos, os pacientes seguiam direto para a cirurgia, mas nos 10% a 15% restantes, a presença do radiologista ao lado do cirurgião era indispensável para uma avaliação mais detalhada.
Além disso, ele defendeu uma comunicação mais eficiente entre hospitais, ambulâncias e equipes de resgate para otimizar o atendimento. A troca de informações deveria começar antes mesmo da chegada do paciente ao hospital, para que os médicos estivessem preparados para agir rapidamente. Outra recomendação feita pelo Dr. Ben-Menachem era a respeito da necessidade de garantir a disponibilidade contínua dos radiologistas, pois um atendimento rápido não seria eficaz se houvesse atrasos na realização dos exames.
Ele reforçou a importância da responsabilidade dos radiologistas na escolha dos métodos diagnósticos, alertando que essa decisão não poderia ser deixada apenas para o clínico.