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rumos da radiologia

Setembro de 1995: debates sobre riscos e os rumos da radiologia

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O mês de setembro de 1995 foi marcado por debates intensos e de grande relevância para a radiologia. Durante o III Curso de Ultrassom e Tomografia Computadorizada, promovido pela Sociedade Paulista de Radiologia (SPR) em São Paulo, cerca de 700 médicos se reuniram para discutir avanços tecnológicos, práticas diagnósticas e também questões éticas e jurídicas ligadas à especialidade.

Um dos pontos mais comentados do encontro foi a discussão sobre o risco de óbito relacionado ao uso de contrastes – tema que ganhou espaço em uma mesa redonda inédita. O debate reuniu especialistas de diferentes áreas, incluindo médicos, juristas e representantes de instituições de ensino e pesquisa. Foram abordados tópicos como a classificação dos meios de contraste, a elaboração de atestados de óbito e a conduta ética diante de possíveis reações adversas. Também discutiram medidas para prevenir complicações e protocolos de conduta em casos de ocorrência. A iniciativa foi considerada um marco, pois ampliava a visão dos radiologistas para além da técnica, trazendo reflexões sobre responsabilidade profissional e segurança do paciente.

A programação científica contou ainda com a presença de professores de Harvard, que reforçaram o caráter internacional do evento. Damian Dupuy, Giles Boland e Nicholas Papanicolaou apresentaram novidades em pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos, especialmente nas áreas de ressonância magnética e ultrassonografia aplicada ao câncer.

Dupuy destacou o uso da ressonância magnética na detecção de tumores ósseos e na avaliação de doenças metabólicas, enquanto Papanicolaou trouxe reflexões sobre o papel do ultrassom no diagnóstico do câncer de próstata. Os especialistas ressaltaram a importância do intercâmbio de experiências, lembrando que, enquanto o Brasil se destacava na aplicação clínica do ultrassom, os centros norte-americanos avançavam em técnicas de ressonância magnética.

Radiologia convencional de 1995 em debate

No mesmo período, o Jornal da Imagem da SPR também trouxe uma reflexão importante sobre os rumos da especialidade. O artigo “Radiologia Convencional: razões de um mal desempenho”, escrito pelo Dr. Luiz Karpovas, discutia o progressivo descrédito em relação aos exames convencionais contrastados.

Segundo ele, métodos como a ultrassonografia e a ressonância magnética vinham transformando a prática radiológica e, ao mesmo tempo, transformando os exames contrastados a um papel secundário — muitas vezes subestimado até na formação dos residentes. Essa mudança de cenário gerava inquietação, pois o avanço tecnológico não deveria significar o abandono de técnicas tradicionais que ainda desempenhavam papel fundamental no diagnóstico de diversas doenças.

A crítica se estendia ainda ao campo institucional: a falta de valorização da radiologia convencional, que não trazia o mesmo “status” de tecnologias mais modernas, impactava tanto na formação quanto na prática clínica. O texto destacava que, mesmo diante da modernização inevitável, era essencial preservar o ensino e a utilização dos exames convencionais como parte da rotina diagnóstica, garantindo assim maior fidelidade, precisão e segurança nos resultados.

Assim, setembro de 1995 destacou-se como um mês de atualização científica, intercâmbio internacional e reflexão crítica. Mais de 30 anos depois, os temas continuam em pauta: a busca por segurança no uso de contrastes, a valorização do conhecimento técnico e a integração entre diferentes modalidades seguem sendo pautas centrais na radiologia atual.