Científico

Tórax

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História clínica

  • Género masculino, 22 anos
  • Imigrante em Portugal há cerca de um ano, proveniente do Afeganistão
  • Antecedentes pessoais: tabagismo
  • Recorre ao Serviço de Urgência por um quadro de início súbito de tosse irritativa, de agravamento progressivo, com três horas de evolução. 
    • Refere que os sintomas começaram cerca de uma a duas horas após ter estado a limpar o chão do restaurante onde trabalha. 

Exame objetivo:

  • Acessos de tosse seca
  • Sinais de insuficiência respiratória: FR: 75 cpm, respiração abdominal
  • Auscultação pulmonar: sibilância difusa
  • Orofaringe ruborizada
  • Apirético

Estudo analítico:

  • Leucocitose (18,03x10E3/uL) com neutrofilia
  • Hb: 17,2 g/dl; Plaquetas: 301x10E3/uL
  • PCR: 0,28 mg/dl
  • GSA: pO2: 53 mmHg pCO2: 21 mmHg pH: 7,60 HCO3-: 26 mmol/L 

Melhoria clínica após:

 → Broncodilatador + metilprednisolona + paracetamol + diazepam

→ Oxigenoterapia

Imagens

  • Radiografia do tórax em decúbito dorsal mostra uma opacidade arredondada no andar superior do hemitórax direito e reforço da trama broncovascular no andar superior de ambos os campos pulmonares.
  • Imagens de TC de tórax em corte axial e coronal mostram áreas geográficas de atenuação em vidro despolido, em topografia peribroncovascular, predominantemente nos lobos superiores e no lobo médio. Sobrepõe-se um discreto espessamento dos septos interlobulares (crazy paving) e um ou outro pequeno foco de  consolidação. Associa-se ligeiro espessamento parietal brônquico.

Pneumonite química secundária a inalação inadvertida de lixívia- gás tóxico (hipoclorito de sódio)

Dra. Inês Matos – Unidade Local de Saúde Gaia/Espinho, Porto, Portugal Diretor de Serviço: Dr. Pedro Sousa Orientador de Formação: Dr. Ricardo Couto Caso clínico orientado por: Dra. Catarina Baraças
  • O doente permaneceu com tosse e sensação de dificuldade respiratória, mas sem insuficiência respiratória em ar ambiente (SpO2: 95-96%).
  • Avaliação por ORL: sem lesões na via aérea superior
  • Dado a exuberância do quadro inicial, foi internado no serviço de Pneumologia durante 5 dias tendo cumprido broncodilatador e prednisolona 40 mg id.
  • Melhoria progressiva dos sintomas.
  • À data da alta: assintomático; auscultação cardiopulmonar normal; estudo analítico sem alterações; consulta de seguimento de Pneumologia em Agosto de 2024.
  • Em casos de inalação de gases tóxicos em elevadas concentrações, consoante o  tamanho e solubilidade das partículas inaladas, pode ocorrer lesão do epitélio brônquico, alveolar, do endotélio vascular e dos macrófagos alveolares. Consequentemente, ocorre obstrução brônquica difusa por edema e infiltrado celular inflamatório.
  • Achados em TC: espessamento das paredes brônquicas; opacidades nodulares centrilobulares de atenuação em vidro despolido → gases menos solúveis; áreas confluentes em vidro despolido com distribuição peribroncovascular; padrão de atenuação em vidro despolido difuso e áreas de consolidação pulmonar→ gases altamente solúveis.
  • O gás cloro é altamente irritante e de solubilidade intermédia, com propensão para afetar o trato respiratório inferior.  
  • Exposição aguda a elevadas concentrações deste gás danifica os capilares alveolares e as paredes brônquicas🡪  bronquiolite e edema pulmonar.
  • Geralmente atopia ou doença pulmonar pré-existente. 

Take home messages

  • Os produtos de limpeza à base de lixivia, embora de uso comum e relativamente seguros, podem causar dano respiratório após exposição aguda ao gás cloro, incluindo rinite, pneumonite, edema pulmonar e ARDS.
  • Pensar neste diagnóstico perante um quadro súbito de insuficiência respiratória acompanhado de alterações no RX tórax, sendo o contexto clínico muito importante. 
  • Os achados em TC de tórax são variáveis e inespecíficos, permitindo definir o grau de severidade da doença.