JPR 2023

PADI debate os desafios da classificação e comunicação dos eventos adversos 

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Reportagem: Lucy Tamborino e Thaís Lopes

Fotos: Igor Ramos de Souza

Veja as fotos da JPR 2023:

 

Como minimizar reações e sequelas ao paciente? A resposta é complexa, mas o desafio não pode ser ignorado. 

A JPR 2023 promoveu uma série de apresentações especiais do assunto – a programação fez parte do módulo “Profissionalismo e Gestão em Saúde – Sessão Especial PADI” – (Programa de Acreditação em Diagnóstico por Imagem). 

A Dra. Cibele Carvalho, presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), agradeceu a organização da JPR e destacou a importância de estabelecer diretrizes eficazes. “A qualidade traz segurança para o paciente, médico e toda a equipe multidisciplinar que atua naquela instituição”, avaliou. 

O coordenador da sessão, Dr. Ruy Moraes Machado Guimarães, destacou a necessidade de estar atento ao usuário final. “Estamos desenvolvendo a qualidade no Brasil por meio de programas de acreditação, como o PADI e os selos do CBR, para que o paciente tenha acesso a serviços cada vez melhores”, comentou.

Cristiane Wenzel, assistente de direção e gestora do diagnóstico por Imagem, no Incor, acompanhou as apresentações. “As palestras foram super importantes, é um tema muito procurado e poucos locais [de saúde] têm uma política relacionada a isso. Me trouxe muita luz”, elogiou. 

 

Eventos adversos: desafios e descobertas

Iniciando as aulas, a Dra. Natalia Henz Concatto apresentou possíveis reações adversas, como aquelas por contraste ou até acidentes relacionados à segurança na ressonância magnética. “Eventos adversos graves podem ocorrer em diagnóstico por imagem, embora sejam raros. Os profissionais de  saúde devem estar cientes dos potenciais riscos e tomar as medidas para minimizá-los”, destacou. 

A profissional mencionou, por exemplo, a necessidade de verificar, em caso de ressonância magnética, se o paciente mantém algum dispositivo em tempo integral – mais informações de condutas do tema podem ser conferidas no site Mrisafety

Já a Dra. Cláudia Maria Meira Dias, representante da DASA, apresentou um caso específico para análise, demonstrando que um mesmo paciente pode ter eventos adversos em diversos momentos, com classificações diferentes entre si. “Não é fácil classificar os danos, é essencial que um time multidisciplinar esteja integrado”, disse.

A profissional destacou a conduta da DASA, que mantém uma gestão de risco, com análise detalhada baseada no protocolo de Londres. De acordo com ela, é preciso identificar rapidamente as pessoas impactadas com o dano, sejam eles para os colaboradores, visitantes e/ou profissionais de saúde. 

Ainda, a Dra. Jovita Lane Soares Santos Zanini apresentou a temática destacando a comunicação – que se desenvolve no fato que os médicos não apenas comuniquem o paciente do evento adverso, mas usem uma linguagem compreensível. 

Para ela, dentro da temática dos eventos adversos, a omissão dos profissionais de saúde é também um grande problema. “A omissão é a decisão de não comunicar o incidente para a família para preservar a imagem do profissional e da instituição”, destacou. 

O evento adverso pode ser ocasionado por diversas formas, e não significa sempre um erro médico, o que ainda é pouco compreendido pela sociedade como um todo.    

Ainda o Dr. Felipe Veiga Rodrigues, apresentou o sistema desenvolvido pelo Hospital Sírio-Libanês, que classifica em uma plataforma os tipos de achados críticos e auxilia em todo o processo de comunicação do fato, o que é fundamental para que todos os profissionais tenham ciência do caso.

 

A incorporação da tecnologia no dia a dia

Tratando-se de meios digitais, a tecnologia traz grandes preocupações de segurança e qualidade. Apesar da facilidade e automação, os riscos existem e é preciso encontrar meios de fazer com que eles sejam zerados.

O Dr. Adriano Tabachiba apresentou o conceito de organização de alta confiabilidade, que se forma a partir de um triângulo em que a saúde da população está no topo, apoiada por melhores tratamentos por um menor custo per capita. Para isso acontecer, a liderança precisa se fazer presente, não somente pelo cargo maior, mas também pela postura dos profissionais para com os pacientes, e com a própria tecnologia. “O suporte ao processo de qualidade é essencial para avaliarmos o que está errado ou o que quase deu errado”, pontua.

Entre as dificuldades da incorporação da tecnologia, está o armazenamento dos materiais e a Lei Geral de Proteção de Dados, que não está relacionada apenas à área de TI, pois ainda existem bancos analógicos. Anderson Mattozinhos de Castro, economista, disse que as maiores barreiras estão nos processos e nas pessoas – atualmente, é difícil encontrar um ambiente que esteja preparado para uma implementação suave de LGPD; eles são mal mapeados, fragmentados e pessoas que não tem interesse em aprender. “As leis têm uma lógica e funcionamento muito parecidos com os programas de qualidade, porém, todo mundo quer estar conforme a qualidade, porém, nem sempre com a lei”, conclui.

A Telelaudo, empresa criada pelo Dr. Flávio Cipriano da Fonseca Lanes, utiliza as principais tecnologias disponíveis para realizar seus procedimentos. O radiologista apresentou todo o seu funcionamento, que passa de home office a reconhecimento de voz com inteligência artificial. “A tecnologia não desemprega ninguém – ela não vai substituir o radiologista; quem usa, vai substituir quem não usa”, reforça.

 

Humanização x tecnologia

Por mais que se pense o contrário, a automação dos processos de Diagnóstico por Imagem fez com que a interação entre radiologista e paciente aumentasse. A Dra. Linei Augusta Brolini Dellê Urban mostrou que, atualmente, clínicas especializadas aumentam a humanização, já que a medicina centrada visa garantir as preferências, necessidades e valores dos pacientes, além de respeitar suas decisões, a partir de 8 pilares, sendo eles:

  • Respeito à preferencias do paciente
  • Coordenação e integração de cuidado
  • Informação e educação
  • Conforto físico
  • Suporte emocional
  • Envolvimento de familiares e amigos
  • Continuidade de transição
  • Acesso de cuidado

Com isso, é possível estabelecer seis etapas para implementar essa medicina baseada em evidências no cotidiano das clínicas:

  • Etapa 1 – Conhecer todo o processo do paciente na clínica, e a importância de todo profissional;
  • Etapa 2 – Assumir boa relação com o médico solicitante;
  • Etapa 3 – Relação com o paciente antes do exame;
  • Etapa 4 – Relação com o paciente após o exame;
  • Etapa 5 – Comunicação verbal com o paciente (ponto de maior atenção);
  • Etapa 6 – Participação de grupos multidisciplinares.

A Dr. Linei afirma que a revolução deste século, para a saúde, não é a digital, pois somente ela não basta. É preciso pensar em uma educação humanística e em uma visão mais holística dos problemas dos pacientes: “Nós, humanos, temos uma coisa que a inteligência artificial não tem: compaixão”, finaliza.