JPR 2024
Fotos: Gabriela Gonçalves

Educação e Introdução à Pesquisa explora experiências estrangeiras

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Na primeira parte do módulo de Educação e Introdução à Pesquisa, no primeiro dia da JPR, os professores abordaram suas experiências em instituições. A moderação do professor Marcel Koenigkam Santos contou com a participação de três palestrantes que atuam fora do Brasil.

Dr. Eduardo Mortani Barbosa Jr.

Na primeira aula, o Dr. Eduardo Mortani Barbosa Jr., que atua na Universidade da Pennsylvania Wharton MBA – Palmer Scholar, mostrou sugestões de formação em três cenários para curto, médio e longo prazos tomando por base os Estados Unidos como exemplo. Isso porque os Estados Unidos são o país com maior gasto em desenvolvimento e pesquisa e o que mais produz artigos na área da radiologia. Lá são ofertadas muitas opções para a formação do médico.

Em um cenário de curto prazo, o professor sugere que o radiologista participe em congressos gerais e eventos especializados, como o CME. Apesar do custo ser integralmente do médico, é bastante acessível a todos. Não chega a ser suficiente para uma transição de carreira, mas faz parte importante do aprimoramento profissional.

Já para aqueles que dispõem de um tempo maior, Dr. Eduardo sugere os fellows de observação (observership). As dificuldades são ter um tempo considerável para ficar fora do Brasil e ser aceito por uma instituição lá. É também necessário obter um visto de intercâmbio ou de trabalho. Mas os observerships são flexíveis, e é possível escolher as áreas de interesse. “É um tipo de atuação passiva, não se coloca a “mão na massa” e não são suficientes para uma transição de carreira nos EUA, mas são potencialmente remuneráveis”, adianta o médico.

Para aqueles que pretendem dispender de uma a cinco anos para essa formação no país, ele explica que há a necessidade de um visto de longa duração e ter passado no USMLE (United States Medical Licensing Examination). É preciso ser aceito em um programa clínico em uma instituição. As instituições oferecem um salário que varia de 70 a 100 mil dólares e as perspectivas são vastas. “Você pode continuar lá, voltar para o Brasil, ir para outro país. Esses programas oferecem flexibilidade, pois você pode fazer um ano de fellow clínico ou continuar no caminho da certificação da ABR (American Board of Radiology) e praticar medicina nos Estados Unidos por toda a carreira. É a opção que mais abre portas”, afirma.

A sugestão do médico para manter-se atualizado é participar uma vez ao ano de um congresso anual, como o RSNA, e uma vez ao ano em um evento da subespecialidade. “Pense em submeter trabalhos para aprimorar seu currículo”, acrescenta o Dr. Eduardo.

Mas para que quer aprender uma técnica ou método, ele sugere escolher um curso focado. “Geralmente são cursos caros, com turmas pequenas, mas muito interativos, mas uma outra opção é o estágio de observação”, comenta. Para aqueles que desejam trabalhar com pesquisa o professor sugere o estágio de observação de até seis meses, e no caso de um foco mais acadêmico, escolher os research fellows de seis a 12 meses.

Para aqueles que querem a possibilidade de trabalhar em outros países, o professor sugere um ano de fellow clínico e o exame USMLE e necessita de licença médica supervisionada.

Nos EUA existem opções de aprimoramento para atender todos os tipos de interesse e objetivos. Os cenários de médio e longo prazo tem obstáculos, mas são factíveis, precisa ter paciência, planejamento e motivação.

 

Decisões em educação em radiologia

Dr. Luis Concepción Aramendía

O professor Luis Concepción Aramendía, Chefe do Serviço de Radiodiagnóstico no Hospital General Universitario Dr. Balmis de Alicante, Espanha, trouxe o panorama de ensino que a Seram (Sociedad Española de Radiologia) oferece para os residentes, acadêmicos e jovens radiologistas.

O professor detalhou como a Seram estruturou a área de ensino estabelecendo um modelo que inicia com o seguinte briefing: o que vamos ensinar, de que forma, em quais formatos, para quem, só para clínicos ou outros para outros profissionais, de que forma, se a formação terá patrocínio ou será cobrada dos alunos.

Com isso eles oferecem oportunidades de encontros ao vivo, o congresso nacional anual e também são co-hosts de outros eventos das maiores sociedades internacionais de radiologia. Oferecem programas de trainees para residentes e jovens radiologistas em grandes hospitais da Espanha.

Eles têm um grande foco no treinamento dos residentes do primeiro ano e oferecem ainda eventos regionais, publicações científicas e de educação, sempre baseados nos pilares de treinamento, educação e comunicação.

A Seram também tem possui estratégias de mídias sociais e outras ferramentas para o combate à desinformação, mirando não só no público médico, mas na sociedade geral.

De acordo com o Dr. Luis, hoje todo o sistema de ensino da Seram está baseado em inovação no conteúdo e no método com o uso intensivo de gamificação, experiências em escape rooms e simulações.

Dr. Kevin Mcgill

O professor Kevin Mcgill, da University of California em São Francisco, onde atua como Diretor de Intervenções Musculoesqueléticas, também apresentou a estrutura de ensino da UCSF onde o lema é “pensar fora da caixa”.

Além de uma estrutura diferente para os estudantes de medicina, para os residentes e para os trainees, há também o ensino para médicos não radiologistas, EADs e o uso de inteligência artificial em radiologia. Um dos formatos de ensino apresentado é com o uso de phantoms (instrumentos utilizados para simulação de órgãos e tecidos no corpo humano em radiologia) para simulação.

Sobre a questão dos phantoms, até houve o questionamento sobre como implementar nas escolas brasileiras a um baixo custo e o Dr. Kevin respondeu que “podemos criar os phantoms usando a criatividade ou podemos gastar dinheiro com os modelos. Usar a imaginação é o mais importante”.

Segundo Dr. Kevin, uma das práticas eficazes na UCSF é estimular os radiologistas a dar palestras, ou seja, explicar o porquê fazem de um determinado jeito, pois isso ajuda ainda mais no aprendizado. “Outra estratégia é fazê-los ver a mesma imagem em diferentes equipamentos”, inclui.

“Nosso desafio na UCSF é com os trainees que vem com diferentes experiências de ultrassonografia em suas residências e para isso, criamos um modelo de ensino de USG específico com quick sessions e estudo individual seguidos de quis. Com isso conseguimos melhorar a qualidade da imagem que os médicos entregam”, afirma Dr. Kevin.

Hoje, a UCSF tem como base de ensino estar estruturada em medicina, estruturada em radiologia, mudar o formato do ensino, estabelecer o auto aprendizado e também ensinar não radiologistas.

 

Uso de laudos estruturados

Na discussão sobre os laudos estruturados, Dr. Eduardo Mortani Barbosa mostrou que nenhuma residência ensina como escrever o laudo radiológico, apesar deste ser o produto principal do radiologista. “É um conteúdo que não é suficientemente resolvido na residência”, afirma.

Ao perguntar para a audiência quem usava o laudo estruturado na sua prática do dia a dia, ninguém levantou a mão, por isso o professor fez questão de frisar que ele é útil e é a base para um laudo inteligente.

Segundo Dr. Eduardo, o laudo tem vários objetivos: cobrança, defesa legal do médico, ser um instrumento de comunicação entre o médico solicitante e o paciente. “Você está dando diagnóstico, prognóstico e sugerindo conduta em seu laudo”, conclui.

O laudo estruturado foca em oferecer informações relevantes e responder questões clínicas. “É mais rápido e facilita a educação. Para quem tem menos experiência, é mais fácil passar a informação. E para pesquisa, facilita a ‘mineração’ de dados (data mining)”, esclarece.

Segundo o professor, o que faz um laudo ser estruturado é oferecer um template, com campos e macros (frases e palavras prévias) com áreas automatizadas sobre técnica, contraste, comparação, anatomia, medidas e por fim a conclusão interpretativa, respondendo questões clínicas e recomendação baseada em evidências.

“Este tipo de ferramenta reduz erros e aumenta a satisfação do paciente e do solicitante. Facilita a pesquisa. O risco é parecer que todos os laudos são iguais”, afirma. “Mas é necessário convencer o grupo a usar e pesquisar como ter um laudo cada vez mais inteligente”, acrescenta Dr. Eduardo.

O médico prevê que no futuro próximo o laudo inteligente vai incorporar inteligência artificial de forma significativa incluindo hipertextos, gráficos, tabelas. O professor apresentou diversos exemplos de sobreposição de texto sobre as imagens e usos de IA, como a comparação com laudos anteriores, busca de marcadores, medições e comparações estatísticas.

“Nós temos que pensar nas perguntas que o médico solicitante faria para introduzir na IA. Para cada resposta, um algoritmo.”, afirma o professor. “A medicina moderna não existe sem a radiologia, mas o laudo não mudou muito em 120 anos. Tem muita inovação nos equipamentos, mas o laudo segue sendo uma ferramenta de texto.”, conclui.

Na aula “Como eu uso no dia a dia o laudo semiestruturado”, o professor Marcel Koeningkan Santos mostrou o modelo que desenvolveu para sua atuação. “É semi, porque o radiologista pode apagar tudo e usar do jeito dele.”

“Há várias informações na literatura dizendo que os laudos estruturados são bem recebidos pelos clínicos solicitantes e na internet é possível encontrar vários modelos estruturados para pesquisar”, avisa Dr. Marcel.

Dr. Marcel criou uma apostila para os residentes com o que deve conter no laudo e está estruturando o Serviço do HC de Bauru, onde criou protocolos do setor de tomografia dividido por cada grupo anatômico. “Eu comparo um laudo com um abstract de trabalho científico.”

 

“Eu sempre coloco dados clínicos e exames anteriores e agora será possível cobrar dos convênios a comparação com exames anteriores. Você tem o direito de falar para o convênio que está fazendo uma atividade que deveria ser paga. Isso valoriza o profissional. Mostrar que sabemos o que estamos procurando. É preciso ser minucioso e detalhista na descrição dos achados, escrever um texto formal e evitar abreviações. Pense que um advogado por vir a ler o seu relatório. Use os guidelines para a descrição, ele não vai substituir seu conhecimento para descrição. Na conclusão, seja sucinto e responda às perguntas e faça sugestões quando pertinente.”

Dr. Marcel Koenigkam Santos

 

“Na descrição dos achados você mostra que sabe radiologia e na conclusão você demonstra que sabe medicina.”, conclui Dr. Marcel.

No debate final, a questão do uso do laudo estruturado foi a mais citada. Para Dr. Eduardo, “é importante saber por que os médicos não querem usar, se reduz o tempo, se reduz a liberdade e convencê-lo que o laudo permite flexibilidade”.

Já Dr. Luis declarou que o uso do laudo estruturado facilita a comunicação e a IA pode ajudar a traduzir nosso texto livre em textos prévios.

O outro ponto discutido no debate foi a diminuição do interesse na radiologia como escolha dos estudantes brasileiros, ressaltada pelo Dr. Marcel e o Dr. Eduardo revelou que nos EUA está havendo uma retomada no interesse pela radiologia. “É uma especialidade dinâmica e temos que mostrar aos estudantes que é uma especialidade central e que há muito o que fazer. Nunca é tedioso. É importante dizer que IA não vai substituir o radiologista e sim que é uma ferramenta útil pra tornar o que fazemos interessante”, concluiu.