Túnel do Tempo

Maio de 1993: medicina não é política de saúde

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Dr. Celso Hiram, até então diretor do Jornal da Imagem, colocou a sua insatisfação diante do cenário atual da medicina no Editorial. Ressaltando o desenvolvimento dos métodos de diagnóstico por imagem em prol da saúde dos pacientes, ele afirmou que isso era mais um passo para a modernidade, enquanto profissionais e serviços sempre tentavam optar pelo mais barato.

Com os exames de imagem, a área passava de intervenções aleatórias para um tratamento clínico ou cirúrgico baseado em um diagnóstico preciso. Dr. Celso aproveitou para citar diversas doenças que precisam do DI, como a pneumonia, a semiologia neurológica e o câncer de mama.

Naquele momento, determinados exames saíam mais caros, e muitos optavam apenas por uma ultrassonografia; entretanto, o diretor reforçou a necessidade e o direto dos pacientes de terem o mínimo elementar para manter a saúde. Os métodos não eram sofisticação: “O momento que atravessamos é histórico e de extrema gravidade. Estão tentando confundir medicina com política de saúde. O ‘mais barato’ está tomando conta da nossa especialidade”, pontuou.

Radiologia para Radiologistas

Dr. Luiz Karpovas, também diretor do JI naquela época, aproveitou o seu espaço para comemorar a nova direção do Departamento de Radiologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: ela foi assumida pelo radiologista Dr. Sérgio Curia – antes, estava nas mãos de um antigo médico cirurgião e a classe radiológica sentiu a necessidade de denunciar.

Tendo um não radiologista tomando conta, tornava possível a intromissão do Departamento de Cirurgia e atrasava a modernização; e não havia uma pessoa capacitada de fato para gerir em uma época que a radiologia vivia um “boom” de desenvolvimento. Com isso, o departamento era tratado com descaso e vivia parado no tempo.

Dr. Luiz aproveitou para enviar um recado à mesa diretora da Santa Casa e pediu para que ouvisse o Dr. Sérgio, profissional de boa formação e bem intencionado: “Deem condições para que ele possa desenvolver o Departamento. Não permitam que, após algum tempo, desanime e conclua que não valeu a pena”.

Além disso, exigiu boas condições de trabalho, remuneração digna e bom senso, com o objetivo de transformar aquele setor da Santa Casa em um dos melhores da radiologia nacional, com possíveis lucros. Para finalizar, outro recado: “A minha especialidade, que prezo muito, não pode ser invadida irresponsavelmente. Aliás, por falar em invadir, abomino a invasão de outros profissionais na área da radiologia, pois tenho por princípio básico não invadir nunca qualquer outra especialidade. Façam o mesmo”.

 

JPR 93 foi um marco e exigiu outro local para o ano seguinte

A JPR de 1993 aconteceu de 22 a 25 de abril, no Hotel Maksoud, e reuniu profissionais de alto nível, palestrantes e uma organização impecável. Com o Curso de Reciclagem e a Sessão de Abertura no primeiro dia, a solenidade terminou com um coquetel oferecido pela empresa Diamond.

Com médicos estrangeiros, as aulas e as palestras começaram no segundo dia, que também apresentou a Sessão de Interpretação de Imagens, sob moderação do Dr. Nelson Caserta, atual presidente da SPR. O sábado demonstrou a grandiosidade do evento daquele ano: todas as salas ficaram lotadas e algumas pessoas assistiram em pé ou sentados nas escadas de acesso – por conta disso, foi conversado que a próxima edição do evento fosse realizada no Palácio de Convenções do Anhembi.

Durante a Gincana de Casos, Dr. Décio Prando, anteriormente condecorado com a faixa de “sério”, apareceu vestido de galinha, segurando uma cesta de ovos e um pintinho, arrancando risos de todos os presentes.

 

O crescimento do diagnóstico por imagem

Naquele tempo, foi observado o aumento da procura por estágios em residência médica no setor de diagnóstico por imagem. Eles foram se aprimorando qualitativamente para atender toda a demanda na formação de profissionais aptos à interpretação necessária.

Segundo a Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP), que fez um trabalho sobre as tendências de expansão nas residências, mostrou que esse aumento de demanda ocorreu devido ao desenvolvimento tecnológico concentrado na área de diagnóstico e radiologia. A partir de 91, por exemplo, havia 60 candidatos para apenas 8 vagas oferecidas pela radiologia do HCFMUSP, com alto índice de aprovação na primeira fase da residência.

Os motivos também englobaram a facilidade de emprego na região metropolitana, além de melhores e mais diversos equipamentos disponibilizados nos serviços de São Paulo, principalmente em relação à ressonância magnética. Além disso, o aumento da demanda de exames e os índices mais altos de remuneração da especialidade comparada com outras também são parte da explicação do aumento da procura.

Por conta disso, expandiu-se a quantidade de cursos rápidos feitos por grupos de médicos, que cobravam taxas exorbitantes por capacitação técnica, mas que, na verdade, não preparavam adequadamente. As residências não oficiais também ficaram em alta, aproveitando-se da empolgação de novos colegas para conseguir mão de obra barata.