Túnel do Tempo

Junho de 1993: a radiologia e seus novos profissionais

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Dr. Luiz Karpovas abria o jornal com a seguinte frase: “Com profundo horror, aquele que estampamos na face ao vislumbrar uma tragédia iminente, estamos constatando a descarada invasão da Radiologia por parte de profissionais de outras áreas da Medicina”. O descontentamento com outras especialistas adentrando a área era nítido.

Mesmo que o Conselho Federal de Medicina permitisse que um médico pudesse exercer qualquer atividade do ramo, a condição seria aceita apenas quando houvesse responsabilidade. Através de um bom nível de profissional e capacitação comprovada por título de especialidade obtido junto ao CBR, os novos radiologistas não seriam temidos, mas sim, prestigiados.

A crítica de Karpovas era para os médicos mal formados que, sem encontrar grandes resultados imediatos para as necessidades, migravam para a radiologia com o objetivo de melhorar o faturamento. Para muitos, inclusive representantes de entidades médicas, “radiologia fatura”.

Dessa maneira, a área empobrecia pela quantidade de escolas médicas mal estruturadas, sem condições para uma boa formação dos profissionais – o médico pontuou que até nas melhores escolas havia também desagregação e ensino superficial. Isso se dava a problemática encontrada na área médica devido às crises econômica, social e moral.

Esse cenário também tinha um agravante: os cursinhos rápidos, principalmente de ultrassonografia, que até garantiam diploma. Isso fazia com que os futuros profissionais se apoiassem em expectativas e ilusões de que a mudança de ramo seria o caminho para dinheiro fácil.

“A meta final não é o corporativismo, simples, arrogante ou a defesa dos interesses menores. É a defesa do princípio básico da própria profissão que é de oferecer qualidade de diagnóstico, resultados eficientes e que norteiem boas condutas, em uma última instância, a razão maior da Medicina: a saúde do paciente” – Luiz Karpovas.

 

Primeiro mundo dentro do HC

Quando uma pessoa é diagnosticada com câncer, muitas perguntas surgem; entre elas, “como se sente o paciente quando se sabe atingido pelo mal que até há poucos anos representava inapelável sentença de morte?”. Desde 1993, a resposta para essa e outras questões seria uma equipe multidisciplinar, com médicos, enfermeiros, nutricionistas, técnicos, atendentes e outros especialistas, que não somente o apoie, mas também a seus familiares.

Ter um time que dê tudo de si para alcançar o objetivo da cura é característico dos serviços de radioterapia dos hospitais do primeiro mundo, e quem acompanhava de perto o Serviço de Radioterapia da Divisão de Clínica Radiológica, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, percebia que esse atributo também estava ali.

Com cerca de 200 novos pacientes por mês e atendimento cinco vezes por semana, 16 horas por dia, a equipe contava com 15 médicos, todos com título de especialista, e, na época, era chefiado pelo Dr. Wladimir Nadalin. Após o primeiro atendimento, o paciente seria encaminhado para a nutricionista, para uma dieta apropriada ao seu caso, e depois para a enfermagem, que moldava uma máscara que limitava as regiões do rosto do pescoço que receberiam a radiação.

Nesse momento, aparecia o primeiro empecilho característico do terceiro mundo: a fila de espera. Eram poucos os serviços de radioterapia mantidos pelo poder público, para muitos pacientes necessitados. A área precisava de um investimento elevado para manter o funcionamento adequado, como equipamentos caros e equipe de físicos.

 

Uma novidade chamada videofluoroscopia

A filmagem obtida através da fluoroscopia é chamada de videofluoroscopia, considerada uma novidade da época. A imagem obtida através de um sistema dinâmico revela áreas antes inacessíveis ao radiologista.

Ainda em estudos devido à exposição à radiação tanto para o paciente, quanto para o médico, o projeto foi criado em 1984, quando um professor do Departamento de Radiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro pensou em um meio dinâmico de avaliar suas hipóteses de trabalho sobre a deglutição. Sua terceira tentativa foi a filmagem em vídeo, que, no primeiro momento, veio com imperfeições.

Com a ajuda de um engenheiro eletrônico, ele resolveu os problemas com a gravação em vídeo e com a interposição de inúmeras imagens. Desse modo, o material ficou excelente e as fitas de vídeo foram distribuídas às escolas de medicina de todo o país, já que eram essenciais para o ensino. O projeto foi financiado pelo Programa de Apoio à Renovação da Graduação da Sub Reitoria de Ensino para Graduação da UFRJ, e pelo Darrow Laboratórios S/A.