JPR 2024
Fotos: Claudio Roberto

A comunicação de más notícias no câncer de mama

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Na sessão sobre comunicação com pacientes, dentro do módulo de Mama, moderada pela Dra. Maria Helena Siqueira Mendonça, a convidada foi a Dra. Jennifer Harvey, Professora de Radiologia da Universidade da Virginia e Chefe do setor de Imagem da Mama do Instituto Americano de Radiologia Patológica, que trouxe duas aulas bastante focadas no cuidado ao falar com as pacientes.

Na primeira, focou na orientação às mulheres com mamas densas e em como informá-las corretamente do seu risco aumentado, entendendo que a mamografia oferece pouca sensibilidade na detecção, incluindo dados sobre o uso da tomossíntese e como introduzir a necessidade dessas pacientes serem submetidas às outras tecnologias.

Dra. Harvey destacou que mulheres com mamas densas são quatro vezes mais propensas ao câncer de mama do que aquelas com mais tecido gorduroso. Em uma pesquisa com 1.024 mulheres, feita por telefone na Virgínia, apenas uma em cada cinco mulheres sabia que tinha mais risco por ter mamas densas. “Pode ser desagradável descrever esse risco para as pacientes e avisar que a mamografia não é boa para elas”, avisa.

“Às vezes, as mulheres se surpreendem com uma notícia de câncer, sendo que fazem mamografia todos os anos. Referem um ‘como não viram isso antes?’”, afirma. A médica também citou casos de suas pacientes com tumores grandes que só puderam ser vistos com o uso da ressonância magnética. Um dos estudos citados em sua apresentação demonstrou que a mulher com mama densa tem um risco duas vezes maior de mortalidade (comparado às mulheres com mamas não densas).

Para elas, é necessário fazer um rastreio suplementar, como tomossíntese e a ultrassonografia. “A tomossíntese realmente ajuda na detecção de cânceres severos não vistos na mamografia, embora não ajude tanto com as mamas extremamente densas”, afirma a Dra. Harvey.

“Só 9% querem fazer exames suplementares e a forma como você informa sua paciente é que vai fazer a diferença”, conclui.

Dra. Jennifer Harvey

O bom, o ruim e o feio

“Eu considero minhas pacientes, minhas pacientes, eu falo com elas!”, afirmou a Dra. Harvey ao abrir a aula sobre “Como dar más notícias”.

A professora criou algumas “personas” para demonstrar formas empáticas para comunicar uma má notícia. De forma geral, a médica sugere que cada um tenha passo a passo para se guiar:

  • Se prepare
  • Marque uma reunião ou pergunte sobre a possibilidade de conversar em um local reservado
  • Diga a palavra câncer
  • Dê perspectivas
  • Fale sobre próximos passos
  • Se coloque à disposição

As personas da Dra. Jennifer Harvey:

  • Miss Ann Xiety – para ela é necessário usar termos simples, dar perspectivas de futuro e mostrar o próximo passo dando o máximo de informação possível. Explicar usando termos como “calcificações são como areia”. Dizer que a maioria das biópsias de calcificações são benignas e que, se tiver alguma coisa, estamos bem no início. Já marque outra consulta antes dela sair do consultório. E comemorar as “grandes notícias”.
  • Miss BRCA II – marcar sempre um encontro pessoal, nunca dar a notícia assim que termina o exame. Não diga “você tem uma ‘massa’ e precisa de biópsia”.
  • Miss Hy Ann Xiety – “Se for para você ficar ansiosa… Vamos fazer logo uma biópsia”. Melhor se adiantar.
  • Miss Mammo Every Year – Usar termos como “estou bastante preocupado com isso”, usar o termo “câncer”, a menos que a paciente não esteja preparada. Se a paciente perguntar “Você acha que é câncer?”, dizer “Sim, provavelmente é, mas é muito pequeno, ainda bem que fizemos a mamografia, eu tenho um plano para você, vou marcar uma hora com o Dr. Fulano de Tal”.
  • Miss Ima Gonner – sempre pergunte se há um lugar onde vocês possam conversar. Dizer que a biópsia mostrou que é um câncer. Ao responder à pergunta “Vou morrer?”, responda “A maioria das mulheres com detecção precoce sobrevive”.
  • Miss Ifelta Lump – é necessária uma conversa diferente, dando informação e suporte. Dizer “Temos um grande time para cuidar de você, nós vamos marcar com um ótimo oncologista”. Não diga que ela vai sobreviver.
  • Miss Itsalgood B Allright – ela pode dizer que não quer fazer uma biópsia agora e é importante convencê-la dizendo “Isso é feito apenas para controle, mas não vamos fazer nada que você não queira”. Mesmo que ela siga negando, insista dizendo que é bom quando os resultados são detectados cedo. E sempre insistir para que na próxima consulta ela traga uma pessoa para acompanhá-la.
  • Miss Ida Gonessewhere – importante ter em mente que a raiva é como o pus, tem que sair. Seu papel é ajudar a “limpar esse pus”. Não deixe a paciente ir embora infeliz e não leve essa raiva para o pessoal. Para as mais nervosas, talvez seja o caso de sugerir que fale com um outro colega.

A ansiedade provoca diferentes respostas que vão do choque à negação, ao medo, à raiva, à culpa, entre outros. “Perguntar o que ela quer que você faça e oferecer tudo o que você pode fazer por ela” vai deixá-la menos insegura, afirma Dra. Harvey.