JPR 2024
Dr. Thomas Hope (foto: Kelly Queiroz)

Teranóstico: diagnóstico e tratamento para casos complexos

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Integração entre nanociências que unem aplicações de diagnóstico e tratamento em um único agente, chamado radiofármaco – também conhecido como terapia com radioligante. Essa é a definição de teranóstico, tema central de um dos painéis do terceiro dia da JPR 2024. O teranóstico permite o diagnóstico, a administração de medicamentos e o monitoramento da resposta ao tratamento em um mesmo momento.

À luz das atuais evidências científicas, o teranóstico entra em um cenário a partir da terceira linha de tratamento (raramente a partir da segunda). Há situações, inclusive, que chega a ser a décima linha de tratamento. O que significa que o paciente, em questão, já se mostrou não respondedor ou refratário às linhas anteriores de tratamento. Portanto, é uma terapia de grande complexidade.

Abrindo o painel, o médico radiologista nuclear Dr. Thomas Hope abordou os desafios em torno da seleção dos pacientes para a Terapia Radionuclídica com antígeno de membrana específico da próstata (PSMA). Ele explica que os dois fatores determinantes para a resposta dos pacientes para a terapia são a dose de radiação e a sensibilidade do tumor à radiação.

Após apresentar relatos de casos, o especialista, que é diretor de Terapia Molecular do MI&T, ressalta que, para seleção os pacientes para PSMA com terapia radioligante (PSMA-RLT) é necessário captar mais que o fígado. “A dose absorvida não se correlaciona com a resposta tanto quanto você poderia esperar e não é possível esquecer a sensibilidade à radiação”, explica. Ainda segundo ele, é indicado usar o SPECT pós-tratamento para acompanhar os pacientes ao longo do tempo para avaliar a resposta.

 

Experiência brasileira

Na sequência, o médico radiologista nuclear Dr. Dalton Alexandre dos Santos, coordenador de Medicina Nuclear e PET/CT da DASA e diretor de Defesa Pessoal da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, compartilhou a Experiência Brasileira de Terapia com lutécio aplicado no PSMA em câncer de próstata.

Ao consolidar dados de diferentes referências internacionais, Dr. Santos mostra que a terapia com 177Lu-PSMA em pacientes com câncer de próstata metastático resistente a castração (mCRPC) prolonga significativamente a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global, diminui os níveis de PSA e resulta em baixas taxas de eventos adversos hematológicos. “No entanto, há uma falta de dados de terapia com 177-Lu-PSMA no mCRPC em pacientes brasileiros”, atenta.

Neste cenário, Dr. Dalton Santos trouxe um estudo retrospectivo multicêntrico, de nove instituições brasileiras, cujo critério de inclusão foi de pacientes diagnosticados com mCRPC, submetidos a um cicio de 177Lu-PSMA entre 2017 e 2022. O desfecho primário foi sobrevida global e o secundário foi redução de ao menos 50% do PSA em 8 a 12 semanas; alguma redução de PSA em qualquer tempo e os eventos adversos hematológicos.

Ao todo, participaram 100 pacientes, de 54 a 96 anos, sendo 78% brancos. Na mediana, foram abordados como tratamento de quinta linha. Foram realizados 333 ciclos, com mediana de 4 ciclos por paciente. Houve redução de PSA em 65% dos participantes, enquanto a redução mínima de 50% foi observada em 42% da amostra. Não houve qualquer evento adverso hematológico em 89% dos participantes.

 

Relato de casos

Por fim, o médico radiologista Dr. José Flávio Gomes Marin, titular do Hospital Sírio-Libanês, médico, coordenador de Medicina Nuclear da Alliança e da UHG Brasil, apresentou desafios práticos na prática clínica com casos complexos de LuPSMA.

Em um dos três casos trazidos na aula, um homem, de 55 anos, com adenocarcinoma de próstata Gleason 7, diagnosticado em 2021. Foi tratado com docetaxel (CHAARTED), abiraterona associada com predinisona e, na sequência, reexposto a docetaxel (1 ciclo isolado e 3 ciclos em associação com carboplatina). Nova reexposição, desta vez a abiraterona, com nova progressão clínica, laboratorial e radiológica. Veio, então, a indicação de tratamento com Lu-PSMA.

Um ano depois, assintomático e com PSA reduzido. Em abril deste ano, foi internado por anemia isolada, por conta de infiltração medular e aguarda biópsia. “É um, dos muitos exemplos de controle efetivo, oferecido aos pacientes pelo teranóstico”, destaca Dr. Marin. Utilizado principalmente em câncer de próstata e de fígado, o teranóstico está tendo ampliadas as suas indicações para outras patologias.