GERME 2023

Evento traz os principais tópicos relacionados à radiologia de atletas

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A 13ª edição do Curso Temático Anual do Grupo de Estudos de Radiologia Musculoesquelética (GERME) foi realizada em 18 e 19 de março, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. Com o tema Medicina Esportiva, o programa abrangeu os principais e importantes tópicos da área e reuniu mais de 300 participantes.

Com coordenação dos Drs. Fernando Bernardes Maia Diniz Ferreira, Rafael Baches Jorge e Viviane Sayuri Yamachira, o primeiro bloco foi “Introdução e Lesão Muscular”, com apresentações ao vivo e gravadas. A primeira aula foi ministrada pelo Dr. Abdalla Youssef Skaff, com o tema “Papel do Radiologista em uma Equipe Multidisciplinar no Cuidado e Manejo do Atleta”.

Ele lembrou que o radiologista tem o papel principal de fornecer um diagnóstico correto e, com isso, carrega uma bagagem que compreende outros profissionais. As responsabilidades, compartilhamento de riscos, tomadas de decisões, políticas internas, fatores financeiros e pressão médica e não médica fazem parte do seu dia a dia. Em alguns casos, desvios de condutas, tanto por parte dos profissionais, quanto de fatores externos, difamação, culpa e ingratidão estão presentes no ambiente de trabalho: “Às vezes, principalmente em clubes menores, há difamação da equipe médica para resguardar a diretoria, como aconteceu em um caso com o Rogério Ceni, em que saiu na mídia que ele foi enganado para não jogar”, comentou Dr. Abdalla.

Dos profissionais que lidam com atletas, quase 80% solicitam exames de imagem, que já utilizam diversas tecnologias, como imagens em 4D para diagnóstico. É o caso dos ortopedistas, que têm papel fundamental na recuperação dos pacientes. Dr. Paulo Roberto de Queiroz Szeles apresentou a aula “Visão do Médico do Esporte: Particularidades no Manejo do Atleta e Retorno ao Esporte”, com os principais tópicos que o médico deve analisar.

Peace and Love é o mais recente protocolo para lidar com lesões, feito com um acrônimo dos fatores que devem ser considerados na recuperação, que são: proteção, elevação, evitar anti-inflamatório, compressão, educação, carga (load), otimismo, vascularização e exercício. Também é essencial que o tempo seja entendido de uma forma mais individualizada, além de compreender quais são a capacidade atual, a capacidade desejada, entre outros.

Uma das formas de tratamento é a observação do gesto esportivo, em que a biomecânica do movimento, a musculatura estabilizadora, o equipamento e as características individuais são analisados. A partir disso, é possível remover a causa da lesão – caso contrário, haverá recorrência.

Vale lembrar que muitas negligências acontecem por conta dos próprios atletas, como no crossfit, em que há um excesso de carga, tanto interna, quanto externa – para que seja possível um retorno ao esporte, é necessário que as duas estejam alinhadas. Outro fator importante é alinhar o treinamento ao que o atleta faz: “Não adianta colocar um jogador de basquete para fazer bicicleta. Ele não atua com isso, então não adiantará”, pontua o Dr. Paulo Roberto. Desse modo, há redução de 51% no risco de lesão: “Para lesão muscular, não podemos pensar apenas no tempo de cicatrização. Temos que pensar quem é o atleta e quais são seus objetivos”, finalizou.

 

 

Ao fim das aulas da manhã, Dr. Cesar Higa Nomura, presidente da SPR, proferiu algumas palavras: “Queria poder dar boas-vindas para vocês e agradecer especialmente aos coordenadores e professores do GERME que nos trazem este evento. Ao ver todas essas pessoas aqui, conseguimos entender o sucesso desta especialidade e deste grupo, que foi um dos pioneiros em provocar a SPR a montar um formato de aula com discussão. Parabenizo pelo alto nível do curso; ele é capaz de nos trazer o Dr. Xavier Stump, e tem duas lideranças importantes, os ex-presidentes da SPR Drs. Mauro Brandão e Carlos Homsi, que realmente contribuíram para a especialidade cresce”, afirmou. “Sou professor da Universidade de São Paulo também e às vezes fico triste em perceber que uma parte dos alunos que se formam hoje não querem nem fazer residência médica, então ver vocês aqui, especialistas, investindo em conhecimento é extremamente importante para a medicina brasileira – não só para vocês e para todos nós da Radiologia. Chegamos aonde a radiologia brasileira não era conhecida – vejam o Dr. Marcelo Bordalo como liderança numa instituição de ponta, em um dos mais importantes eventos esportivos do planeta. A SPR quer apoiar cada vez mais para que esse conhecimento, essa especialização, essa medicina de precisão, a formação de lideranças seja nossa fronteira. Ela tem uma categoria de membros chamada SPR Jr., que reúne várias pessoas jovens, e quero convidar vocês para se envolver com a sociedade, o que é muito importante para o fortalecimento da nossa especialidade!”, completou.

 

Os tipos de atletas

Para que os diagnósticos sejam dados de maneira clara e correta, é preciso conhecer o paciente e em qual grupo ele está inserido, podendo ser juvenil, mulher ou idoso. Cada um tem suas próprias características que devem ser consideradas na hora de detectar a lesão. O Dr. Francisco Abaete das Chagas Neto discorreu sobre o assunto.

Os atletas juvenis, por exemplo, começam a iniciar as suas atividades competitivas com muita sobrecarga, gerando traumas. As lesões acontecem durante os treinamentos, e não exatamente durante a competição. O joelho é a articulação mais atingida neste processo.

Já as mulheres têm proporções e especificações biomecânicas diferentes do homem, que devem ser analisadas na hora do diagnóstico. Já para os idosos, a atividade física é sinônimo de qualidade de vida e é preciso incentivar a prática. Entretanto, o treinamento pouco orientado, a falta de prática e a baixa capacidade física são responsáveis pelas lesões.

“Cada grupo tem características biomecânicas diferentes e pratica atividades físicas diferentes. Para um tratamento correto, devemos conhecer todos os fatores que influenciam”, finalizou.

 

Radiologia na Copa do Mundo 2022

Dr. Marcelo Bordalo, brasileiro que, atualmente, reside no Qatar, foi um dos radiologistas responsáveis pelo Departamento de Radiologia no Hospital Aspetar, em Doha, que deu suporte à Copa do Mundo. O serviço médico foi responsável por mais de 1 mil pessoas, que envolveu 832 atletas e 130 juízes, entre outros.

Para que o planejamento começasse, foram realizadas pesquisas sobre Radiologia em outras Copas do Mundo; entretanto, Dr. Bordalo explicou que o material era extremamente escasso. Mesmo assim, foi possível estabelecer um serviço de qualidade, com fluxo único para que atletas de seleções rivais não se encontrassem: “A FIFA exigiu essa confidencialidade, que só foi bem sucedida graças ao tamanho menor do departamento”, afirmou Dr. Bordalo.

Os times exigiram que o diagnóstico por imagem estivesse presente com os exames de ressonância magnética, tomografia computadorizada, raios x e ultrassonografia. Todos os laudos foram discutidos com a equipe particular do atleta, com imagens enviadas através de um portal e a tradução para o inglês, português, espanhol, francês e árabe.

Para facilitar a comunicação, uma empresa brasileira foi contratada para confeccionar um laudo audiovisual para todas as ressonâncias magnéticas. Esse projeto foi iniciado em março de 2022 e extremamente elogiado pela FIFA, pelos médicos das seleções e dos próprios clubes.

A Radiologia foi o serviço mais requisitado durante todo o período da Copa. Ao todo, foram 143 exames de imagem, sendo a maioria realizada durante a fase de grupos. A ressonância magnética foi a mais solicitada, representando 67,1%, e as lesões que mais ocorreram foram na coxa, tornozelo/pé e joelho, nesta ordem: “Um dos maiores pontos positivos foi a comunicação através do laudo audiovisual, que melhorou a relação entre os médicos e os times, e a padronização das nomenclaturas, para uma melhor compreensão”, disse.

Esportes da moda: riscos que oferecem

O beach tennis e o crossfit dominaram os novos atletas que precisavam de um incentivo para começar a treinar. O primeiro trouxe quadras de areia para a cidade grande, mas também os presenteou com lesões nas diferentes fases do jogo.

Dr. Flávio Albertotti afirmou que elas acontecem pelo volume de jogo, falta de preparo físico e fatores relacionados diretamente à modalidade. O atleta recreacional não está preparado para essa demanda, e o profissional já vem de uma rotina adaptada.

Cada movimento do beach tennis gera uma carga específica sobre o corpo, como, por exemplo, o sprint ao sacar, que força o tendão de Aquiles e a panturrilha. O fato da superfície ser macia (areia) também interfere, pois há interferência no trabalho positivo, gerando mais trabalho mecânico.

O crossfit gera muitas lesões por não oferecer um treinamento adequado para cada tipo de público. Todos são englobados nos mesmos movimentos e nas mesmas cargas, o que sobrecarrega quem deveria ser submetido a outro tipo de treino.

“Por esses esportes oferecerem diversos tipos de lesão, é importante que o radiologista conheça cada uma delas e que associe com a história e o quadro clínico do paciente”, completa.